Le Feu d’Issey decide ser popstar

Le Feu d’Issey talvez seja o perfume contemporâneo que saiu de linha mais lamentado. Foi criado em 1998 por Jacques Cavallier mas não chegou perto das vendas de seu irmão L’Eau, nessa que poderia ser uma boa, mesmo que previsível, série de elementos da natureza traduzidos em perfume — Kenzo lançou seu Air em 2003, que é um excelente vetiver, Terre d’Hermès, também um vetiver, é de 2006. O destino foi a guilhotina.

É uma das duas resenhas de perfumes descontinuados que Luca Turin inclui em seu Perfumes: The Guide “na vaga esperança de que os deuses tragam os mortos de volta.” Num dos pedidos foi atendido, Yohji Homme foi relançado ano passado. No outro, não.

E como toda pessoa normal fascinada com aquilo que não pode ter, já tinha pesquisado preços ($120 dólares um frasco meio cheio no ebay, R$300/50 ml no Mercado Livre), bolado estratégias que nunca vou executar e tudo mais pelo desafio de botar a mão e dizer — É meu. Até que no caminho do barbeiro tinha uma ótica e na ótica tinha um Feu d’Issey de óculos escuro, na vitrine, olhando para mim.

— Dá licença. Aquilo é um perfume?

— É sim.

Junto da sua nova família

Junto da sua nova família

Expliquei, falei e perguntei até conseguir umas borrifadas no braço.

Bom, é uma coisa esquisita. Parece lavanda na frente sobre um fundo leitoso e um tico caramelado, mas sem ser espesso demais, de um jeito bastante versátil, o dia estava quente e não incomodou. Com certeza tem uma rosa ali dentro, talvez com o leitoso dê uma impressão de sabonete e por isso minha cabeça puxa uma lavanda? E por um bom tempo a impressão é bastante floral, apenas no fim o leitoso toma conta, e essa parte é muito gostosa, tem o cheiro da pele de quem toma muito leite. Depois fui perceber: nenê tem cheiro de leite e caramelo, será que foi isso que pegou todo mundo? O frasco tem qualquer coisa de útero ou semente vinda do espaço.

Perguntei onde tinha comprado, fui na loja que a dona me indicou. Lá a outra dona jurou não ser, nunca trabalhou com a marca. Trinta e quatro dias depois a bola vermelha ainda está lá, de óculos na vitrine, olhando quem passa.

 

  • Adoro! hahahaha Dênis, você me representa! rs
    Eu iria além e faria uma proposta ao gerente. Sérião.

  • Caroline Barros

    Huahuahuahuahuaa que engraçado! Eu com ctz faria uma proposta tb! Que disperdício, uma raridade, mesmo que nao tenha amado, pegando sol e claridade, pecado!
    Adorei o título da matéria! kkkk