Continuando a série Falando perfumês em que contei porque se fala em nota e acorde, sobre o frescor verde, sobre o âmbar típico dos perfumes orientais, hoje é a vez de falar de uma madeira. É o campo do patchouli, cedro, musgo de carvalho e do sândalo e também do vetiver. Esse último tomou a frente foi parar no rótulo do perfume, roubando a cena: Vétiver (Carven) foi lançado em 1957, desde então a matéria prima é um clássico do lado tradicionalmente masculino da prateleira e tem uma legião de fãs.
Talvez a cara comum das madeiras seja uma textura seca, ranhurada, embora cada uma tenha suas qualidades: as vezes lixada, polida e suave como no Voyage d’Hermès, as vezes picante, esculpida no machado e coçadora de nariz como o patchouli demolidor de Angel. O vetiver é um capim e o que se usa é um extrato da raiz dele, o que já dá uma pista do cheiro: na minha cabeça o que melhor descreve é uma dupla entre úmido e terroso, com cada perfumista realçando as características que quiser.
Ele aparecer escuro, levemente amargo, umedecido, no ótimo Lalique Encre Noire, ou ainda com um ângulo enfumaçado no Sycomore (Chanel). Vétiver de Guerlain consegue a façanha de ser terroso, picante graças a noz moscada e ainda produzir um resultado sóbrio, elegante, que cairia lindamente numa mulher. Terre d’Hermès também tem uma dose grande de vetiver. Todos estes podem sem encontrados no mercado brasileiro, procure numa loja e compare lado a lado para identificar. Há quem prefira o conforto gourmand de Vétiver Tonka, da linha exclusiva da Hermès, em que aparece amaciado com uma bela dose de fava tonka ou cumaru, que tem cheiro de amêndoa e baunilha. Uma alternativa mais cítrica e solar é o a Vétiver Cologne de Annick Goutal ou ainda o sensacional Sel de Vétiver, em que tem destaque um aspecto mineral e salgado, é o meu vetiver favorito. Mais ou menos toda a marca de nicho tem o seu, tendo a oportunidade de comparar é algo legal de se fazer.