Resenha: Nu, Yves Saint Laurent — Incenso, cardamomo e contrastes

Uma das espécies que produz o olíbano ou frankincense: Boswellia Carterii

Uma das espécies que produz o olíbano ou frankincense: Boswellia Carterii

Como adiantei no Instagram, essa foi minha primeira compra de perfume sem testar. Li uma ótima resenha no Bois de Jasmin, sou fã de incensos e estava numa promoção sensacional. O pacote chegou e fui testar com ansiedade, direto na pele. Assustei com a saída cheia de informações, mais densa do que me deixa confortável. Mas lentamente essas camadas vão se desfazendo, o perfume é delicioso e a prova que existe vida inteligente em toda prateleira de perfumaria.

Me parece que o mais legal aqui é uma oposição de universos, dois registros diferentes em tensão. De um lado tudo o que tem um aspecto cítrico, com sua leveza e frescor, do outro, resinas que dão um pouco de corpo e um leve efeito talcado. Não é a nuvem de talco dos perfumes cheio de raíz de íris como Dior Homme ou Ferré Eau de Parfum, é mais um aspecto aveludado bastante sexy.

A saída tem uma dose floral de jasmim que, embora goste da flor, é num volume maior do que gosto em mim. Rapidamente ela se dissipa e fica mais claro o duelo. Numa camada baixa, grave e escura, está o incenso e as resinas que dão a textura de veludo — e basta ter ido na missa uma vez para perceber que o incenso tem um aspecto agudo, cítrico. Os incensos dividem algumas moléculas com a resina do pinho, daí a semelhança. Ao invés de reforçar o calor com especiarias quentes, como canela e cravo, a escolha foi por reforçar a leveza, usando uma especiaria fresca, o cardamomo. Ele tem um aspecto que lembra o chá inglês Earl Grey, que é um chá preto aromatizado com bergamota, que também aparece no perfume — a bergamota, não o chá. É o incenso, através de sua faceta vibrante e cítrica, que faz a ligação entre esses dois mundos (sem trocadilho).

Também participa da história um aspecto floral que não consigo nomear, levemente doce. Mas nada exagerado: se existisse uma escala do pavão, do austero ao exuberante, Nu ficaria no meio, marcando “elegante”. É um incenso menos explícito e mais usável que Comme des Garçons Incense Avignon, por exemplo. Yves Saint Laurent Nu poderia ser definido com uma contradição, um oriental fresco. Projeção e duração excelentes, e quanto mais tempo se usa melhor fica. Das grandes descobertas do ano.

Para ver uma outra impressão sobre o mesmo perfume, você pode ler a resenha da Vanessa no Perfume na Pele.

Nu, Yves Saint Laurent

Nu, Yves Saint Laurent
R$269, 80 ml.

Difícil de encontrar.

  • Eu achei muita bergamota para um só “Earl Grey”, hehehehe.
    Foi legal comparar as impressões, valeu!

  • Daniel Hisamura

    Denis, onde encontrar informações sobre moléculas parecidas como no caso do pinho e do incenso ? Outro fresco e gourmand: HM Hanae Mori, Kate Puckrik fez uma resenha em vídeo. Comentei na resenha do Antaeus. Os meus comentarios te atrapalham ?

    • Daniel, tem que pesquisar química para encontrar essas coincidências de moléculas. cuidado com o gourmand: todo gourmand é oriental, nem todo oriental é gourmand. Gourmand quer dizer doce, são os filhotes do Angel — o Nu em especial é pouquíssimo doce. Seus comentários são sempre bem-vindos, Daniel.

      Editando para esclarecer: Gourmand quer dizer “guloso”, quis dizer que na perfumaria entende-se por gourmand um perfume doce.

  • Ciça

    “oriental fresco” apenas por este comentário já me deu vontade de experimentar. Sabe que desde que virei uma consumidora de perfumes de nicho (como vc diz) nunca mais comprei pra mim, perfumes de grifes. Puro preconceito, né? Vou experimentar depois te conto.
    Bjs

    • O chato é ter que pesquisar, revirar as prateleiras, os de nicho parecem ser um universo menor e mais fácil de observar. Se quiser posso te fazer uma amostra grandota. Me avise.

  • Bem maroto esse perfume. Meio difícil pra muita gente, e/mas bonitão. No mais, se o novo é assim, imagino o vintage (não cheguei a conhecê-lo).

    • Também não conheci. Eu fico evitando o baile da saudade do “vintage é melhor” e tento ficar com o que temos, mas que dá uma curiosidade, isso dá. (E na outra aba do navegador está aberto o Mercadolivre pesquisando perfume antigo…)

      • Baile da saudade é uma boa expressão, haha. Às vezes implico com gente que nem conheceu o original é á fica chorando defunto desconhecido (não é o caso da Vanessíssima, mas aproveito o comentário pra criar polêmica).
        Perfume bom é bom, é como Shakespeare: nenhuma readaptação vai tirar a essência do gênio.

  • Daniel Hisamura

    Eu intendo, oriental com âmbar, cravo, canela, resinas… Gourmand os ”cheiros de sobremesa”.

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