Eu queria falar sobre sal. Existem muitos perfumes doces. Nenhum salgado. Eu não queria notas marinhas. Eu não queria mar. Ou ozônio. Para mim sal é o gosto da pele. Quando você transpira, ou quando nada no mar e a água evapora e o sal ainda está na pele, esse é o cheiro.
Quem conta é a perfumista Céline Ellena, criadora de Sel de Vétiver, no livro A Perfect Scent.
O que se usa em perfumaria é um extrato das raízes do vetiver, que é um capim. O material aparece como solução quando Céline vai jantar na casa de uma amiga, que aromatizou a água com algumas raízes da planta. Dias depois, “com aquele gosto ancorado na memória”, ela percebe que era o sal que fazia a ligação do vetiver com a água. “O vetiver é um pretexto. Ele me ajuda a falar sobre o sal”.
Por mais que eu goste da baunilha urbana de Bvlgari Black, do luxo infinito do couro no Cuir de Russie (Chanel) ou ainda do chypre redondo, frutal e sexy como Le Parfum de Therèse (Fréderic Malle), estes não são perfumes fáceis de usar. Pelo traço adocicado ou pela envolvência, que no tempo frio é bem-vinda e deliciosa, nos dias mais quentes ou muito úmidos imploro para que eles desapareçam antes que sufoque. O fato é que cada vez mais me vejo procurando notas salgadas. Talvez por gosto aprendido, como jiló (estamos trabalhando) ou mariscos (passei a suportar), esse tipo de perfume é mais versátil para o clima quente. Se os três primeiros te envolvem e protegem numa nuvem, os outros tendem a ser “crocantes”, com borda definida, com um ângulo mineral que faz contraponto ao calor. Sel de Vétiver (Different Company) é o melhor exemplo dessa trilha dos perfumes salgados.
A Different Company foi fundada em 2000 pelo perfumista Jean-Claude Ellena e Thierry de Bascmakoff, designer responsável pelo belos frascos da marca. Desde 2004 Ellena é contratado exclusivo da Hermès, hoje sua filha Céline é a principal perfumista e diretora artística da marca. É dela a criação do sensacional Sel de Vétiver, de 2006.
Perfumes centrados no vetiver podem ser úmidos, terrosos, com um aspecto amargo como Encre Noire (Lalique) ou ainda noturnos e enfumaçados como Sycomore (Chanel). Sel de Vétiver parte para um caminho mais leve e solar. É um perfume de pequenas modulações, primeiro um pouco mais cítrico, depois com o coração deliciosamente salgado. Embora não seja de difusão gigantesca, permanece toda a jornada presente. Se o Vétiver da Guerlain é elegante-de-terno-e-gravata e pode parecer muito para um dia comum, Sel de Vétiver é um pouco mais relaxado e é a ele que recorro quando quero um perfume que chegue depois, uma confiança mais íntima. Na minha cabeça tem o valor de uma camisa branca impecável: clássico e de elegância atemporal. É lindo, e até agora, meu vetiver favorito.
E você, que estratégia você usa quando o clima não permite perfumes mais densos? Que fragrância você busca quando quer se perfumar, mas de modo mais íntimo, para si? Você faz parte das legiões de fãs do vetiver? Qual é o seu perfume favorito nesse tema? Participe nos comentários.
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