A família Guerlain chega ao Champs Elysées

Você já sabe um pouco sobre a história recente da Guerlain. No post anterior contei da entrada de Thierry Wasser à marca, como primeiro perfumista fora da família a comandar a criação. Mas como uma loja criada em 1828 chega até aqui? Quem foram os homens que criaram esse caminho? Como se perfumavam as pessoas endinheiradas e influentes que compravam os produtos Guerlain?

Na imagem: Aimé Guerlain, criador de Jicky

Naquele ano corte francesa ainda estava instalada nas Tulherias — entre os dois braços do Louvre havia um edifício, isolando o palácio — e é quando Pierre François Pascal Guerlain abre sua loja na Rue de Rivoli, no local onde hoje é o Hotel Meurice. Vendia perfumes e cosméticos importados da Inglaterra, como cremes para clarear a pele. Em seguida acrescenta produtos de sua criação: vinagres de toalete para limpeza do corpo, eaux e extraits.

A produção de Pierre-François era ao gosto da época: de um lado procura reproduzir a natureza através de perfumes florais, principalmente violetas, rosas e buquês. De outro, busca frescor nas águas de colônia, como na Eau de Cologne Impériale, vendida ainda hoje.

Em 1849 ele acompanha o movimento do luxo francês e transfere a loja para a Rue de la Paix. Tempos depois, quem assume o negócio é Aimé Guerlain, filho de Pierre. Ele introduz a idéia do perfume abstrato, emotivo, descolado da natureza, como Jicky.

Jicky é o apelido do sobrinho de Aimé, Jacques Guerlain, para quem Aimé deixa o título de perfumista. O perfume ainda é fabricado e traz a assinatura de Aimé: o uso de notas animálicas pungentes, nesse caso o civet, que é fácil de perceber por sua impressão fecal. Jicky também é dos primeiros perfumes a se beneficiar das descobertas recentes da química, usando uma grande dose de cumarina.

É só em 1914 que se instalam no Champs-Elysées, com a loja no térreo e os apartamentos da família em cima, numa configuração que dura até 1939, quando criam o primeiro instituto de beleza da França no local da residência. Hoje neste espaço você vai encontrar uma loja um pouco mais reservada que a do térreo, com os deslumbrantes frascos históricos da marca expostos em vitrines.

Os frascos foram o ponto de partida para Thierry Wasser reproduzir perfumes há muito não fabricados: vendo os perfumeiros vazios, disse “bonito, agora faltam os perfumes.” Revirou arquivos de fórmulas, buscou fornecedores (e empresas que tinham comprado fornecedores) para refazer perfumes a maneira que foram imaginados por seus criadores.

Fui apresentado a estes perfumes na sobreloja do famoso endereço, na antiga residência da família, na  sala em que Jean-Paul Guerlain, o último perfumista da família, compunha seus perfumes. Num próximo artigo conto sobre esse momento e o encontro (surpresa!) com o próprio Wasser e sua mãe.