Rápidas: testando Neela Vermeire

Graças a generosidade do Daniel, que é meu aluno e comanda a Ego in vitro, tenho tido acesso a vários perfumes de nicho que levaria muito tempo para conhecer. Também é um acesso limitado: testo rapidamente, registro impressões e depois comentamos em aula, de forma que não daria para fazer uma resenha extensa, entrar em pormenores, julgar com atenção profunda. Qualquer coisa entre teste de loja no tempo livre e a resenha cuidada.

Mas mesmo entrecortada a informação é boa e não merece ficar parada em mim — quantas vezes a gente não quis saber alguma coisa sobre determinado perfume ou linha, qualquer coisa? Uma pista, uma impressão, “parece de longe com”, só para saber se continua na lista de perfumes para testar. Um que sai é outro que entra.

Resolvi fazer umas resenhas rápidas disso que tem passado pela minha mão. Um comentário breve, a primeira impressão, sempre limitada mas cheia de potência, aquilo que gostaria de voltar, aquilo que já passou — sem medo de pagar a língua depois.

Neela Vermeire

É uma linha de perfumes com inspiração em períodos da história indiana, todos desenvolvidos pelo prolífico perfumista Bertrand Duchaufour, mais conhecido pelo seu trabalho para o Artisan Parfumeur (Timbuktu, Séville a L’Aube, Saffran Troublant) e Comme des Garçons (Incense Avignon, Kyoto, etc). Duchaufour cria sob direção artística da indiana Neela Vermeira, que batiza a marca. O gênero Oriental construiu uma idéia de oriente, o oud, matéria prima do mundo árabe, é a bola da vez há uns bons anos, talvez a Índia seja a próxima fronteira nessa fabricação de imagens?

Quem procura caráter e perfumes distintos já encontrou, estes não são parecidos com nada, mas, aleluia, não tem aquele efeito de zíper diagonal na roupa, da invenção que é só uma invenção. E quem gosta de uma saída dramática também — todas as minhas anotações começam com uma palavra e uma exclamação. Abaixo, a própria Neela.

Mohur

Cravo! Um monte, a ponto de lembrar o corredor do dentista (óleo de cravo é um antisséptico e analgésico), que de tão quente chega a ficar gelado, junto com um amargo de açafrão e o frutado do cardamomo. Com o tempo a saída amansa bastante e sobra uma rosa um pouco leitosa, amendoada, com sensação de pétala, e uma pitada das especiarias. Bastante leveza e usabilidade. Sublinhei: rosa fantástica. Não chega a ficar no caminho sabonete mas pensei que esse podia ser um Rive Gauche ou Calandre indiano. Balancei para comprar até lembrar que é caro.

Trayee

Spices mil! Cominho, cravo, neem, amargo, tostado, seco, madeira, medicinal, parece um curry (no sentido da mistura de temperos). Neen é a folha de uma planta usada como tempero na Índia que tive a sorte de conhecer na semana anterior ao perfume. Mesmo acabada de colher cheira tostada, amadeirada. Com o tempo aparecem anis e açafrão, depois somem. Um amadeirado indiano de sensação bastante seca. Anotei: provável efeito Estava cozinhando uma refeição indiana (mas quem se importa)?

Bombay Bling

Manga! E a manga é mesmo a mais bling das frutas, com sua cor de ouro, o cheiro penetrante. Essa é bem no ponto de madura, ainda com frescor verde, um tico leitoso e outro sulfuroso, que dá aquela sensação de pontilhado no cheiro da casca. Bastante doce, de sensação colante, muito bem feito.

neelavermeire

Neela Vermeire

Mohur e Bombay Bling: $250 dólares (60 ml) Trayee: $260 dólares (60 ml)

Na Luckyscent.com

  • Que legal! Resenhas rápidas são bacaninhas. Faça mais! Faça mais! E continue com as grandes, claro! Mas não deixe de passar suas impressões quando cafungar algo em modo ff (sim, sou do tempo do videocassete, me deixa! rs).