4 perfumes favoritos para o inverno 2014

Parecia que esse ano ia passar batido mas agora ele veio: o inverno começou se você está em São Paulo. Para quem usa perfume para se proteger e abrigar, e tanto faz se é do frio ou dos fantasmas que moram na cabeça, é um prato cheio. Nas minhas “escolhas” (é mais acontecido que escolhido) tem um viés de cravo, que redescobri recentemente na floricultura do supermercado e virou a última obsessão: que perfume mais surreal. (Aliás, me deixe sua dica de perfume com nota cravo, mas tem que ser a flor.) Clicando nos nomes sublinhados você vê resenhas completas de cada um.

Foto: Carnations and striped vase, Robert Mapplethorpe

Yves Saint Laurent Opium (versão atual)

A saída cheira a vela apagada e dá uma ilusão de “tem tanta coisa junta que cheira a limpo” (provavelmente por conta de uma mistura de aldeído e lírio do vale). Mas ali tem mirra levemente amarga, âmbar de um jeito leve, com um belo floreio de cravo (a flor). A sensação é balsâmica sem ser pesada, envolvente, lânguida, preguiçosa. Sugere lugares escuros, movimentos lentos e iluminação por velas. Ao longo do tempo vai abrindo, ficando mais etéreo, mais floral. Tem pouca doçura e o cravo é uma flor austera, de impressão picante, faz um masculino bonito se o oriental é o seu caminho. Me acompanha pra cama com freqüência.

Knize Ten

Esse é o perfume que aperta todos os botões, não importa o quanto e em que ocasião use, e elas tem sido muitas, tem sempre algo inteligente a dizer. É um couro no caminho mais masculino da história, com uma nota petrolada que lembra óleo diesel. E tem o cravo mais bonito que conheci até agora — junto com o efeito petrolado nunca consigo deixar de pensar num Bubaloo muito mascado, aquele plástico com um resto de sabor levemente floral. A secagem é fantástica, vai terminar num âmbar + couro. Serve para se sentir um cara durão ou um cavalheiro (meio sórdido) na Viena dos anos 20, quando o perfume foi criado. Se eu tivesse que ter um couro só, era este. Forte candidato a perfume favorito da vida, favor perguntar daqui 50 anos.

Comme des Garçons Incense Kyoto

Esse foi uma redescoberta. Confesso que esnobava como sendo um perfume muito fácil — que bobagem. Se Incense Avignon vai por um caminho gelado como pinho, Kyoto lembra cipreste: frio, de sensação expectorante e facilitadora da respiração, com uma faceta mineral/metálica que é deliciosa. Sensação um pouco solitária e meditativa, estes sentimentos de inverno.

Bulgari Black

Categoria: tem que conhecer. O único que ficou da lista do ano passado, aquele que espero o período certo para usar, o que não canso de compartilhar o meu amor. Agrada ao paladar (baunilha), ao piromaníaco (fumaça), a veia urbana (tem cheiro de borracha), e às contradições da própria vida urbana: a necessidade de proteção (veste quente), a necessidade de conforto (veste macio). Escuro, complexo, com ótima difusão e dura para sempre. Fala um pouco mais alto do que me deixa confortável mas contorno aplicando longe do nariz.

E você, o que está usando nesse inverno? Deixe o seu comentário. 

Veja outras escolhas de inverno nos blogs:

Le Monde est Beau | Perfumes Bighouse | Village Beauté | Templo dos Perfumes

Vanessíssima | PerfumartParfums et Poesie | A Louca dos Perfumes

 

 

 

  • lili

    Denis, lembra do Vent vert? Lembrei dele, hoje, e me deu uma saudade…. Ainda existe na versão original?

  • vivi

    aqui onde moro só tem uma perfumaria. as opções não são tantas…
    ainda não decidi qual será o meu de inverno. MAs comprei um shalimar initial (não acho nem por decreto o Shalimar). E um Lovely.
    Qual será o meu?! Qdo chegar te aviso.
    besos
    vivi

    • Vivi, o Shalimar tradicional só no exterior ou com alguém que trouxe de lá. Acho que vc vai gostar do Lovely! É um ótimo perfume.

  • Diana Alcantara

    Que lista boa. Cheiros ‘acourados’ no inverno são armaduras, são protetores.
    Quer um perfume de cravo lindo: sente o Terracota Voile D’Ete da Guerlain, acho que vc levou amostra. Senão corre pra cá.

    • To com a amostra aqui mas não cheirei, acredita? Vou voltar pra ela e achar esse cravo. Já me falaram do Giò, antes do Acqua de, mas cheirei tão rápido que não deu pra encontrar.

  • Priscila

    Vela apagada? Opium para mim é vela acesa, escorrendo a cera sobre a mesa de madeira escura, na almofada de veludo… Calor puro, de lareira acesa mesmo. É o único que consigo sentir o opoponax de verdade! Borrifo sempre no cachecol (porque aqui no sul, inverno é sinal de ‘roupa em camadas”!)

    • Essa do cachecol é muito boa, tem perfume que fica espetacular sentido no dia seguinte, na roupa. O YSL Nu é um.

      O Opium acho bonito como ele vai abrindo com o calor, começa meio amassado de tanta coisa junta e com o tempo fica uma gaze, gostosa de sentir na pele. O que mais vc tem usado no inverno?

      • Isac Donisete

        Cada vez que leio e/ou releio algo sobre o YSL Nu me frustro por não conseguir botar o nariz nesse bichinho, vou voltar ao Opium, talvez não tenha dado a atenção necessária… quero pra ontem, anteontem, pra uma vida antes dessa… ai urgência, ai meu parco dinheirinho! Delícia de texto Dênis… sucesso “as usual”!
        P.S. Compenso frustrações comprando perfumes (ou tentando!) me deixa! rsrsrs

        • Isac, sabe que pensei em te recomendar o Bang, do Marc Jacobs? Ele é cheio de pimenta do reino, que as vezes lembra incenso. Se vc amassar uns grãos vai ver que eles são bem cítricos, com o fundo amadeirado, que é uma sensação parecida com o incenso. Veja se funciona. O Opium não é generoso, mesmo.

          • Isac Donisete

            Ganhei um Bang… e Bang! Amei…

      • Priscila

        Dênis, dá uma olhadinha no Parfumée, que hoje eu fiz a resenha do Krizia My Afrika… Um gengibre ardidinho e muito criativo, ótimo para o friozinho!

  • Cassiano

    Gostei da descrição do Knize Ten. Esse cavalheiro da Viena dos anos 20 me soa interessante.
    Mais um para conhecer!

    • Cassiano, tenho certeza que vai gostar dele, é um masculino sem cair no clichê do fougère, uma mão gentil mas firme e um pouco depois do elegante – sempre acho que o elegante não se diverte, mas não quem usa Knize Ten.

  • Ju Toledo

    você falando de cravos, lembrei de uma bomba: Red de Giorgio Beverly Hills… puro cravo!

    • Esse Giorgio aí é só da bomba, bem Las Vegas, cheio de brilho, com um pé no brega! Vou caçar um pra cheirar, obrigado pela dica.

      • Nicole

        Viciei no blog, adoro perfumes e tu escreves muito bem. Sobre cravo, eu me lembrei do L’air du Temps – Nina Ricci, uso ease perfume quando bate uma saudade da minha vo. Ja o Red – Giorgio Beverly Hills, traz lembrancas das amigas da minha mae, quando eram jovens. Se fosse foto, home elas NATO acreditariam no que estavam usando. (que maldade da minha parte he he mas lembro como she fosse ontem rsrsrs).

        • Nicole, ótima lembrança o L’Air du Temps. Me falaram que a última formulação, me parece que num frasco um pouco diferente do anterior, está muito bonita.

          • Nicole

            Não sei dizer, o meu é antigo. Uso raramente e acho que se conserva bem, porque não notei alterações. (O que o corretor fez com o meu comentário? De onde saíram esses “ease”, “home”, “NATO”, “she”? ‘Home” foi o pior de todos hehe)

          • hahaha, eu fingi naturalidade com as palavras estranhas…

          • Nicole

            Muita gentileza! Obrigada.

  • Bulgari Black é marotíssimo! And único. Preciso me dar um.

  • Dâmaris – Village Beauté

    Knize Teen devidamente anotado na interminável lista das curiosidades perfumísticas …

  • Elisabeth Casagrande

    Hummm … fiquei tão curiosa com este Incenso Kyoto. Deu asas a imaginação. Adoro incenso. Beijocas de Elisabeth

  • LI

    Knize Ten? Isso é nicho, não? Fiquei curiosa com a descrição dessa fragrância que me pareceu tão autêntica!
    O CDG Kyoto também me despertou curiosidade. Acho o Avignon lindo e amo tudo que tem incenso, acho que é uma nota que tem o poder de unir o sexy ao sóbrio.
    bjus

    • Li, o Knize é de uma marca de alfaiataria austríaca. Só é vendido no exterior, nem é dos mais caros, mas é difícil de achar. O que talvez faça virar um perfume de nicho? Mas acho que a marca está pensando nas roupas mesmo.
      Gostei da sua descrição sobre o incenso! É super versátil mesmo.

  • dede toffoli

    olá querido, vim agradecer sua resenha sobre o Opium. Eu havia pedido que vc o comentasse há mais de uma no, e adorei! Mesmo não tendo mais o original, do qual me lembro saudosamente, o novo me gusta e continua sendo o number one no meu coração!

    • dede, que bom, acabo me perdendo com todos os pedidos e afazeres do site, sempre alguma coisa escapa. é um grande perfume, gosto muito da sensação lânguida e preguiçosa dele.

  • Mateus Loschi

    Minha úlitma paixão é o Zinzonia da Penhaligons. Perfeito para os dias cinzas e solitários, com seu carater exótico.