Passando pela pequenina Rue d’Alger, nesse que é um dos quarteirões mais legais para quem quer cheirar perfumes de nicho, é fácil encontrar a Maison Francis Kurkdjian: vá seguindo as bolhas de sabão.
Elas fazem parte da ótima extensão da linha e vêm em quatro fragrâncias diferentes. Para perfumar a casa, além das infalíveis velas, que são a nova flor em termos de presente a ser levado num jantar, ainda existe uma espécie de incenso em papel, de queima rápida, semelhante ao tradicional Papier d’Arménie. Você também vai encontrar sabão e amaciante. Em entrevista Kurkdjian declarou ter passado boas horas em supermercados procurando produtos com fragrâncias semelhantes — o tormento de ser perfumista. Não encontrou e decidiu produzir ele mesmo.
E os perfumes? Acho que coloquei a expectativa alta, me pareceram bonitos mas jogando seguro, com algum medo de errar, esperava pelo menos um par de gemidos quando tivesse provando. Fiquei com um só, que corresponde a Absolue Pour le Soir. Se fala que uma matéria prima tem acento animálico quando lembra o corpo e suas secreções, a pele e seu cheiro. Funciona como um sopro de vida para florais que seriam tão perfeitos a ponto de se tornar irreais, por exemplo, e como toque de sensualidade, de algo carnal.
Aqui o perfumista utiliza uma extração de mel. O lado açucarado, envolvente, que sozinho seria banal, é equilibrado por notas animálicas e escuras — o próprio mel tem um ângulo que lembra urina e Kurkdjian amplia a impressão corporal acrescentando cominho. O perfume ainda leva uma rosa densa e sândalo, que contribui com a textura granulada no fundo. Pela opulência e estilo é uma piscada ao Oriente Médio e seus perfumes densos e cheios de olhar ao corpo, conforme contou na entrevista exclusiva ao 1 nariz.
Lumière Noire Femme foi desenvolvido sob medida para Catherine Deneuve, por pedido da atriz. Quando criada a Maison ela autorizou que Kurkdjian o lançasse comercialmente. É de uma delicadeza de aquarela, sutil e etéreo, bonito, fácil de usar, mas sem muita coragem. É uma rosa translúcida, levemente metálica, combinada com patchouli: exatamente a mesma estrutura de um monte de florais que estão no mercado. A flor na frente e aquele patchouli moderno, borbulhante, editado sem o terroso, no fundo.
Quando visitar a loja não deixe de conhecer The Smell of Money e Le Parfum de la Reine — ambos não ficam expostos, é preciso pedir. O primeiro é uma colaboração de Francis com a artista Sophie Calle. Depois de trabalhar na indústria em Nova York, a dupla produz o cheiro de uma nota de dólar velha, passada de mão em mão. Tem cheiro de tabaco e outras coisinhas. Le Parfum de la Reine foi criado por ocasião do restauro da propriedade de Maria Antonieta nos jardins do Castelo de Versalhes. É a recriação do perfume da rainha a partir de uma fórmula encontrada no espólio. Feito no espírito da época, apenas com matérias primas naturais.
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Imagens: frascos e bolhas de sabão © Polskey http://www.polskey.com/