Livro: Journal d’un Parfumeur, Jean-Claude Ellena

journalNão é perfume mas o autor é o mesmo. Jean-Claude Ellena talvez seja o perfumista em atividade mais conhecido no mundo. Não é pouca coisa se considerarmos que a Hermès não faz anúncio com celebridades e é pequena em relação a Chanel e ao conglomerado LVMH, dono da Guerlain —  desde 2008 Jean-Paul Guerlain não é mais o perfumista da casa, lugar ocupado por Thierry Wasser.

Ele passou a ser perfumista exclusivo da casa em 2004 e quatro anos depois as vendas de perfumes tinham triplicado. Além de ter contratado um grande perfumista, encontraram alguém disposto a tomar a frente e se expor. Pesquisar leituras sobre perfumaria é esbarrar na produção de Ellena, seja atrás da caneta ou na frente de um jornalista. Em 2009 publicou Le Parfum, de perfil mais técnico e de referência, que substituiu a edição anterior, há muito esgotada. Esta foi escrita por seu mestre Edmond Roudnitska, apresentado ao 1 nariz na resenha de Le Parfum de Therèse. Está disponível em inglês com o título Perfume: The Alchemy of Scent.

Journal d’un Parfumeur sai em 2011 e é aquela oportunidade rara de conhecer processo criativo, mais que falar sobre, ele fala de dentro do assunto. Vai trabalhando em dezenas de ensaios de perfumes ao mesmo tempo, substituindo ingredientes, alterando proporções, até sentir que algum é promissor e apresentar a equipe da marca. A colônia Narcisse Bleu que acaba de ser lançada, foi criada nesse passo ao longo de anos. Ellena conta que a intenção foi imprimir o aspecto tátil que percebe no extrato da flor e sua haste, sem fazer uso do próprio material, apenas com componentes sintéticos. E reforça o apelo sensorial dos perfumes citando Paul Cézanne, que dizia ver na cor “a maciez, a dureza, a moleza e até o odor dos objetos”.

Diz oscilar entre definições como artista e artesão: quando imagina que obra lhe cabe criar, é um, quando busca realizar essa obra, é outro. Mais do que mostrar os bastidores da profissão, aqui tem lugar a prosa típica do criador lidando com sua matéria, cheia de becos sem saída, reflexões íntimas e questões sobre o fazer.

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