Esse link rolou essa semana no Twitter e Facebook do 1 nariz mas é bom demais para se perder. É uma entrevista com Olivia Giacobetti, perfumista de criações singelas e potentes como um desenho de Leonilson. São dela Philosykos para Diptyque, En Passant para Frédéric Malle e vários para L’Artisan Parfumeur, como Premier Figuier e Dzing! — aqui já falei não muito bem de Tea for Two.
A linguagem é tão transparente e fina quanto a criação. Ela fala do fascínio por tudo o que queima, pelo figo — “minha árvore totêmica” — e comenta seu estilo:
Talvez exista uma sensibilidade ou uma música que corra de um perfume para o outro mas não me dou conta. Eu busco simplicidade, clareza, precisão, mas também deixo espaço para a emoção. Perfume sem poesia e emoção perde todo o sentido. Amo perfumes que são vivos, que tem temas fortes, mas tento compor com delicadeza, com a beleza austera de uma imagem em preto e branco. Não gosto de perfume vago, indeterminado ou notas elementares que imitam a natureza desajeitadamente.
Mais adiante oferece um momento precioso de olhar no seu processo criativo:
Sempre imagino o perfume na minha cabeça, então escolho os ingrediente e quantidades. Antes de começar preciso sonhar a respeito, me contar a história, ter uma idéia bem precisa do que deve ser. As palavras me ajudam a definir seu temperamento, cores, textura, música, emoções. Por exemplo, uma água perfumada, mas que tipo? Uma aguinha de chuva? Não, não uma água triste, mas pálida e salgada, uma água fresca que seca na pele sob o sol. Eu gosto de começar com muito pouco, uma semente, então drapeio em camadas. Pode levar dias, semanas, meses para perceber a idéia inicial.
A fala sobre criação é parecida com a de Jean-Claude Ellena em seu Diário. Ele comenta precisar esgotar as definições a respeito do perfume antes de iniciar, e marca a preferência pelas palavras do tato. Não perca a inspirada entrevista com Olivia Giacobetti.