Falando perfumês: Fougère

Fougère Royale, ao evocar a vegetação rasteira abaixo das árvores — fougère é a palavra francesa para samambaia –, partiu em direção a abstração e foi tão bem sucedido que virou um gênero de perfumes. Foi criado em 1882 por Paul Parquet, usando pela primeira vez na perfumaria um material sintetizado em laboratório. Era o sintético da cumarina, extração da semente do cumaru, também chamada fava tonka (tonka bean), que tem cheira a uma mistura de palha e amêndoa, que lembra baunilha. Cumarina combinada com lavanda é o acorde básico daquilo que se chama de fougère, um manequim a ser vestido a vontade pelo perfumista. Quando conheci um perfume cheio de cumarina (Bois Farine, L’Artisan Parfumeur), o cheiro me lembrou um enfeite que minha mãe comprou numa viagem ao nordeste, onde o cumaru é comum. Era feito de “feijões” secos, presos por uma linha — os feijões tinham um cheiro maravilhoso, dava vontade de comer — eram a própria fava tonka.

1950

Daqui a coisa ganha muitas variações e se torna o estilo tradicionalmente masculino de perfumaria. São perfumes viris, pontudos, afiados, as vezes cortantes, que chegam na frente, com o aspecto herbal, verde, levemente mentolado do acorde. Tudo ligado a sabonete, limpeza e produtos masculinos. É uma ideia antiga, de ingredientes baratos, que está por toda parte — no meu banheiro tenho um gel de cabelo (não me julgue) e uma espuma de barbear com perfume fougère. É possível que pareçam baratos ou comuns demais, confie no seu nariz.

Para identificar o acorde procure o denominador comum entre Kouros (YSL), Cool Water (Davidoff) e Azzaro pour homme, que exploro um pouco mais neste post. Guerlain Homme é mais polido, arredondado, um fougère de design se distanciando do gênero, assim como Yohji Homme.