O leitor JB pediu que eu escrevesse recomendando perfumes femininos para homens. Além da carreira de modelo, só na perfumaria o homem vai naturalmente se dar pior que a mulher. A menos que pesquise um pouco, especialmente na prateleira de lá. Fiquei pensando o que é que define o gênero de um perfume — e se procurar o sexo de um objeto não basta para te convencer a usar o que preferir, independente do enquadramento de venda, seguimos. Aos fatos e as dicas, os links levam para as resenhas específicas:
- Se um perfume tem versão feminina e masculina, a masculina é pior em 90% dos casos. Veja Tommy Hilfiger Cologne, Dolce e Gabanna Light Blue, daria para passar o dia listando
- Coisas cuja primeira reação é marcar como masculinas, tipo uns couros barra pesada, foram criados para mulheres no passado. O melhor exemplo é Robert Piguet Bandit, lançado em 1944 para damas elegantes e hoje capaz de intimidar os corações mais delicados. No mercado nacional você encontra Grès Cabochard, também feminino e com o mesmo efeito
- Os perfumes femininos se tornaram seres de saia rasa e decote profundo, tão doces e frutados que fazem os clássicos parecerem feitos para um lenhador. Veja Clinique Aromatics Elixir, amargo, medicinal e totalmente fantástico. Não leve um susto na hora da borrifada em meia hora é espetacular. Também vale para Miss Dior Original, hoje impossível de achar, e Diorella
- A perfumaria dita masculina cada vez mais empresta elementos da perfumaria dita feminina, embaralhando tudo. Veja o efeito acolchoado, talcado e protetor da íris, que está lindamente representado no Dior Homme. Para uns florais menos opulentos, tem Chanel N°5 Eau Première, variação moderna, mais legível e aerada do clássico: sutil e discreto. Ou ainda Chanel N°19, de saída verde, com rosa, íris e muito elegante
- Mas a doçura também faz grande sucesso entre os caras — lembra dos jogadores de futebol e seus cremes Victoria’s Secret? Se o perfume de sobremesa for a sua praia, tente Thierry Mugler Womanity (figo maduro e sal ao mesmo tempo), L de Lolita (Lolita Lempicka, cítrico + baunilha) ou ainda a estupenda tortinha de amêndoa de Guerlain L’Heure Bleue, pai, mãe, espírito santo (amém) de todos eles, esse para pesquisar numa viagem
- Para dar um jeito no calor do verão e desviar do frescor mentolado de todos os perfumes masculinos: Chanel Cristalle, extra verde, de saída cítrica, ou ainda A Scent by Issey Miyake, que é bem parecido e tem preço melhor; o brilho e frescor do chá, na simplicidade deliciosa de Tommy Girl. Ou, por outro caminho, Dahlia Noir L’Eau, também verde mas com um patchouli elétrico no fundo que dá um pouco mais de peso
- Para um conforto em temperaturas menores e uma certa opulência: a baunilha e o abraço de Kenzo Amour, Yves Saint Laurent Nu e/ou Opium, ambos com bastante incenso, o último cheio de especiarias quentes
- E finalmente, tem coisa que é simplesmente boa demais para ficar restrita a uma parcela da população. Todo mundo deveria cheirar, e se possível usar, uma vez na vida: o couro impossivelmente luxuoso de Chanel Cuir de Russie, disponível nas lojas Chanel de maquiagem e beleza em São Paulo e no Rio; os Guerlain clássicos para conhecer numa viagem, todos femininos: Jicky, Mitsouko, Après l’Ondée.