O fato de que em todas as lojas que encontro esse perfume, o tester é o único com o logo antigo, com desenho da fachada do Palais Royal, já adianta que não faz muito sucesso. Nas primeiras vezes que testei Serge Lutens nada bateu — a maior parte da coleção é de perfumes ousados, de pinceladas largas. É preciso tempo de contato e suspender o juízo para entrar no ritmo que Lutens propõe.
Muscs Koublai Khan é centrado em musks de efeito animálico, seco. A abertura é dramática: uma bela dose de cominho se combina com os musks para uma impressão brutal de suor, como numa sela depois de uma longa, longa cavalgada– é o próprio Koublai Khan, imperador mongol, chegando da batalha. É quase repulsivo. No papel o efeito se mantém até o fim. Na pele vai reduzindo em meia hora, quando os musks ficam centrais e te colocam numa cama deliciosa, sem dúvida com lençóis da semana, um ninho confortável. Sempre gostei da camiseta de dormir a partir do terceiro dia, porque já tem cheiro de corpo — limpo, que tomo banho antes, mas é inegávelmente cheiro de corpo, e gosto dessa referência.
Andando numa feira de antiguidades vi um casaco castanho, de raposa, pendurado num cabide, os pelos brilhando no sol. Por interesse científico enfiei meu nariz entre os pelos e era o mesmo cheiro do perfume — pele de animal quente.