Como um milhão de euros — Resenha de Chanel Cuir de Russie

Nas últimas semanas pessoas diferentes me pediram pra listar os 3 perfumes favoritos da vida. Sempre dou um jeito de escapar da pergunta ou escolho só dois, por que me parece muita precisão pra alguma coisa que exercito no gerúndio. Além dos perfumes lançados que não conheço, tem os que serão lançados pra conhecer.

Assim consigo salvar o direito de mudar de idéia. No fundo a vida é mais complicada que isso, há muito mais notas de coração em cada escolha que um mero top 3 pode supor.

Mas Cuir de Russie estava em todas as respostas. É o perfume me faz sentir o cara mais inteligente em qualquer sala que entrar. Eu não conheço um milhão de euros mas tenho uma pista de que cheiro ele tem.

Cuir de russie foi um tema de perfumaria no fim do século XIX e começo do XX — o tal couro russo é impermeável, resistente a insetos, tratado com óleo de bétula. Vários perfumistas fizeram o seu: o da família Guerlain e o de L.T. Piver são uma bota pesada e arranhada. Secos e amargos, couros muito escuros, profundos, quase queimados.

O de Ernest Beaux, mesmo perfumista de Chanel Nº5, é couro macio, trabalhado, flexível e finíssimo como papel. Só um pouco defumado e com a dose certa de bicho, nada de sela de cavalo e de estábulo. Cuir de Russie é tão couro como é floral, e floral do jeito Chanel, com aquela íris talcada que diz cifrões como ninguém, o ylang ylang reforça o animal do couro com qualquer coisa que lembra banana bem madura. É adulto e velho mundo.

Se fosse criado hoje poderia ter o nome banal de Nº5 Pour Homme, não dá pra negar o parentesco mas disso a gente se livrou. Caras que curtem florais no caminho Dior Homme, Cuir de Russie é como se Dior Homme fosse criado nos anos 20. Mulheres querendo uma mão mais firme no seu floral clássico, aqui está.

Se o seu couro é caro e chic, se eventualmente precisa sentir que nasceu com O Sinal ou só está com saudade do Rolls Royce da sua avó, você já tem um perfume. Chanel Cuir de Russie faz parte da linha Les Exclusifs.

  • Paulo Junior

    Delicioso mesmo eu não tenho mas já tive o prazer de senti-lo . Dessa linha eu tenho um outro que se chama 31 Rue Cambon que acho sensacional. .abs adoro seu blog

    • Paulo, está com um grande perfume! É lindo o Cambon. Gosto bem dessa linha inteira, mais honesta e comprometida com qualidade que várias seleções de exclusivos por aí.

  • Fabio

    Oi querido, tudo bem? Deixo meu “humirrde” comentário aqui. Definitivamente, eu não gosto de couros. Mas comprei um decante dele pra testar. Você acertou namosca: ele é tanto couro quanto floral. Mas na minha pele essa mistura dá uma desandada, que não é Deus! A primeira imagem que vem à minha cabeça são aquelas barraquinhas de incenso indiano de R$ 1,00 da 25 de março… Até me faz lembrar em uma carteira de verniz preta, cara, como uma que minha mãe tinha. Mas… alguém teve a infeliz ideia de guardar aquela caixinha de incenso tóxico dentro da carteira. Sorry, mas tinha de me abrir com alguém!

    • haha! Mas gente, o que será que te dá essa impressão? Se tivesse uma rosa ali dentro já tava explicado, era ela. Mas no Cuir de Russie… não consigo avaliar. Entendo o horror todo. Mas deixa ele guardado por 90 dias, suspende o juízo e testa de novo? As vezes a impressão muda — eu vivo pagando a língua com perfume.

      • Fabio

        É que eu tô ficando velho e ranzinza… Experimentei várias vees, dentro de um ano. Realmente, o Cuir não é pra mim, não.

        • Ah, o gosto não se explica, só acho que é legal estar aberto pra mudar de idéia. Paciência.