13 rosas – As clássicas

Está um momento bom para as rosas. Com o lançamento de Stella McCartney no Brasil no ano passado, o sucesso da família Chloé e o lançamento de Natura Esta Flor Rosa, vale a pena fazer um tour guiado por essa flor que não para de inspirar a perfumaria. Vamos começar pelas clássicas, três referências em estilos distintos. Prometo mais alguns posts alinhando por outros critérios.

Na imagem: Yves Klein, Ho Ho! (fragmento)

As clássicas

São de uma época que perfume era para marcar, para deixar uma impressão. Podem parecer fortes hoje? Sim. Aplique na medida do seu conforto e seja feliz. Nenhuma delas vai sofrer do mal moderno: querer agradar todo mundo, pedir opinião, somar, dividir por dois e fazer um perfume sem identidade — Olivier Cresp, perfumista de Angel, já falou que os painéis com consumidores estão matando a perfumaria. Estes três perfumes não sofrem deste mal: tem um ponto de vista exposto em voz alta e com orgulho.

 

Estée Lauder White Linen

Rosa com um lado que lembra sabonete não parece bom, certo? Certíssimo mas não vale pra cá. Mesmo quando se quer comunicar limpeza e intenções imaculadas não quer dizer que precisa nivelar por baixo.

White Linen segura a onda com uma rosa profunda, saturada, picante, que lembra cravo (a flor), em contraponto aos aldeídos, coisinhas sintéticas faiscantes, que brilham como néon no nariz. A textura também é sensacional, amidoada e espessa, como passar os dedos numa tela preparada para pintura. Tenho percebido que os perfumes que se ama de verdade são incríveis quando são aplicados e deslumbrantes algumas horas depois. White Linen é um deles. Prova que a idéia de corpo limpo e lavado da perfumaria americana não precisa ser sem graça. Limpinho, sim, bobinho, não.

Duração incrível e custa uma bagatela — se o dólar ajuda. Por mistérios inexplicáveis só é vendido no exterior. Alô, dona Estée, trás seus perfumes pra cá!

 

Yves Saint-Laurent Paris

Paris está buscando uma sublimação de duas idéias de rosa: romântica e feminina. É grandioso, envolvente e refinado, embrulha quem usa numa chuva de pétalas. Tem aquele efeito talcado que sempre é associado com chic e caro — para alguns, lembra senhoras. Essa impressão de “em pó” faz pensar em cosméticos caros, maquiagem, penteadeira, coisas de mulher de antigamente, e como se não bastasse de romantismo, um pouco de violeta reforça o lado retrô da coisa. É uma referência de rosa, tá cheio de imitação por aí.

 

Clinique Aromatics Elixir

Rosa = rosinha? Essa é pra você. Aromatics Elixir é verde escuro e florestal, terra úmida, vento no cabelo. É amargo como um xarope com uma dose gorda de rosa antiga. Sem um pingo de açúcar, sem concessões.

Antigão? Sem dúvida — mas vai tão na contramão do gosto atual, do que se produz atualmente, que ia funcionar muito bem fora do contexto, como uma peça de brechó. Não no sentido hippie do brechó, mas no sentido que um elemento clássico no meio de vários contemporâneos contribui com interessância. É feminino como uma amazona.

A difusão e duração são fantásticas. É potente e um gosto aprendido: eu precisei de várias borrifadas ao longo de um ano para me render. É do tipo de perfume que precisa de tempo de pele para ser apreciado. Se no começo parece um exagero, com o tempo vai se abrindo e ficando mais legível, mais arejado. Se interessa para alguém, Aromatics Elixir é um exemplo excelente de chypre clássico.

  • Ale Ev

    Dênis, sobre o “mal moderno de querer agradar a todo mundo”, você conhece o L’eau pour femme, de Kenzo? Embora seja floral, não tem rosa na composição (e por isso saio um pouco do assunto do post), mas você o classificaria como um “perfume sem identidade”? Estou atrás de outro perfume – hoje só uso esse Kenzo -, mas me incomodam perfumes fortes que me dão dor de cabeça e por considerar que meu cheiro é um assunto meu e de quem eu escolher pra estar bem perto. Acho invasivo o uso de perfumes que eu considere exagerados.

    • Ale, acho que cada um faz como se sente confortável e com o que se identifica. Uma cliente da consultoria que atendi recentemente tem preferências parecidas com as suas, nessa idéia de querer que seja algo íntimo e sutil — o terror dela é imaginar que entra na sala e o perfume chega antes.

      Mas não vou fugir da pergunta 😉 Acho que o L’Eau par Kenzo é ok mas não é um perfume memorável, que daqui a 40 anos não vai ser lembrado como um grande perfume.

  • Alize Bernardes

    Oi Dênis! Sempre tive uma dúvida quanto às rosas. Toda vez que encontro uma flor, corro pra cheirar para descobrir se tem aroma agradável, e isso inclui as rosas, que até então só senti um cheiro doce, como se fosse um leve açúcar ou cana de açúcar. Esse cheiro fica mais intenso quando as pétalas estão murchando – é o que mais sinto principalmente nos arranjos dos casamentos. A única vez que reparei esse cheiro em um perfume foi no Tommy Girl, que experimentei no aeroporto de Brasília (minha cidade é uma tristeza pra perfumes). Esse aroma nada tem a ver com o odor que imaginamos que as rosas teriam, como a tradicional água de rosas (cosmético) e a água de rosas utilizada na culinária. Tem alguma espécie de rosa que exala esse aroma retrô que nos remete a esses produtos ou com algum outro cheiro além do cheiro de açúcar quando está fresca?

    • Alize, o que vc está falando é que quase não reconhece o cheiro da planta como sendo cheiro de rosa. Sua referência principal de rosa — e de muitíssima gente — é das coisas com nome rosa na embalagem, que, bem ou mal, acabam educando nosso nariz. E frequentemente não tem nada da rosa natural.

      Já encontrei umas rosas muito pequenas, que davam em trepadeira, que tinham esse cheiro de água de rosas. O que acho que chega mais perto é botão de rosa para chá, que vc encontra seco. Só não sei onde comprar. Te respondi?

      • Alize Bernardes

        Respondeu sim, Dênis. Eu achava que ou meu olfato não era aguçado o suficiente por sentir somente esse cheiro doce ou as rosas que poderiam possuir esse cheiro que conhecemos nos produtos com “odor de rosas” fosse de alguma espécie mais difícil de encontrar por essas bandas. Muito obrigada pelo esclarecimento! Abraços

        • Karin

          Oi

        • Karin

          Oi, Alize! Há alguns anos eu estava em Avignon, na Provence. Topei com uma exposição de rosas, com várias espécies usadas na fabricação de fragrâncias. Os cheiros eram sensacionais! Quase um soco na cara. Descobri naquele dia o que era cheiro de rosa e como ele aparece na perfumaria por vezes de maneira bem fidedigna. Nada parecido com o cheiro das plantas que temos por aqui. Perguntei para um produtor de flores porque as rosas “de floricultura” não cheiravam como aquelas. Segundo ele, as muito perfumadas não são as mais bonitas nem as mais duráveis, sendo as de floricultura desenvolvidas a partir de inúmeros cruzamentos e enxertos, nos quais nunca se privilegiava as características olfativas, e sim as visuais, por razões óbvias. Interessante, não?

          • Alize Bernardes

            Nossa, Karin! Que legal essa descoberta! É uma grande pena que não temos essas plantas por aqui. As vezes vejo resenhas de perfumes com comentários “imagine você estar em uma floricultura cheia de rosas, etc etc” e ficava me questionando – cadê o perfume intenso das rosas?? hahaha. Poder conhecer o verdadeiro aroma das rosas deve ter sido uma experiência magnífica, muito obrigada por compartilhá-la. Pra gente resta é sonhar e talvez ter a sorte de se deparar com um produtor de rosas voltadas à perfumaria. Abraços!

  • Elisabete Rocha Pagani

    Obaaaa! um monte de coisas boas e novas pra cheirar! Ótimo post!

  • Karin

    Dênis, desculpe-me pela pergunta que não está diretamente relacionada ao post. Mas estava por aqui e meu grilo falante disse “talvez seja o Dênis a pessoa certa para ajudar”. Minha avó faz 80 anos daqui a uma semana. Confesso que tinha me esquecido da data. Não tenho atualmente um contato tão intenso com ela como tinha quando criança, por motivos que agora não importam. Minha mãe que me lembrou disso, ao me repassar o convite da minha tia para um chá da tarde de comemoração pela data. Pois bem, comecei a pensar no presente. Ela sempre gostou de perfumes. Quando “fiquei grande” e com o primeiro dinheirinho que ganhei, comprei aquele que é meu perfume preferido até hoje, muitos frascos vazios depois: Shalimar. Escolhi porque ela e minha tia usavam e me lembro criança pituca de estar sentada na cama dela e aquele cheiro invadir minha alma. Foi o primeiro cheiro “de mulher” de que tenho memória. Sei que ela não usa mais Shalimar e os motivos do abandono eu desconheço. Minha mãe disse que atualmente ela está usando “um azul do Boticário”, que assumi ser o Floratta in Blue, porque minha mãe disse não ser o Thaty. Enfim, depois desta epístola, minha questão: qual perfume escolher para uma mulher de 80 anos, que é animada, adora dançar e rir, e que já usou Shalimar e agora usa Floratta in Blue? Travei meu HD pensando nisso. Pensei no My Burberry, mas o preço que ele é vendido por aqui está fora do meu orçamento de até R$ 250. Alguma luz? De qualquer forma, agradeço de ter lido até aqui.

    • Karin, acho super complicado dar perfume de presente — eu mesmo nunca faço isso. Mas vamos lá, to aqui quebrando a cabeça.

      Vou sugerir umas coisas no caminho que vc apontou, já que conhece ela. O Clinique Aromatics in White tem clima parecido com o My Burberry, é mais adulto, muito feminino, muito bonito e está dentro do seu orçamento, acho que é uma boa alternativa. Gosto demais do Cacharel Noa, muito delicado, confortável, e tbm está no orçamento.

      Depois conta como resolveu?

      • Karin

        Oi, Dênis! Resolvi da forma mais covarde. Desisti de presenteá-la com perfume. Seu comentário me deixou com medo. Se nem você se atreve a presentear com perfume, por que eu deveria fazer isso? Acabei comprando alguns itens de maquiagem, de cores que sei que ela usa (e todos com cheiros bons 😉!). Obrigada pela ajuda.