Está um momento bom para as rosas. Com o lançamento de Stella McCartney no Brasil no ano passado, o sucesso da família Chloé e o lançamento de Natura Esta Flor Rosa, vale a pena fazer um tour guiado por essa flor que não para de inspirar a perfumaria. Vamos começar pelas clássicas, três referências em estilos distintos. Prometo mais alguns posts alinhando por outros critérios.
Na imagem: Yves Klein, Ho Ho! (fragmento)
As clássicas
São de uma época que perfume era para marcar, para deixar uma impressão. Podem parecer fortes hoje? Sim. Aplique na medida do seu conforto e seja feliz. Nenhuma delas vai sofrer do mal moderno: querer agradar todo mundo, pedir opinião, somar, dividir por dois e fazer um perfume sem identidade — Olivier Cresp, perfumista de Angel, já falou que os painéis com consumidores estão matando a perfumaria. Estes três perfumes não sofrem deste mal: tem um ponto de vista exposto em voz alta e com orgulho.
Estée Lauder White Linen
Rosa com um lado que lembra sabonete não parece bom, certo? Certíssimo mas não vale pra cá. Mesmo quando se quer comunicar limpeza e intenções imaculadas não quer dizer que precisa nivelar por baixo.
White Linen segura a onda com uma rosa profunda, saturada, picante, que lembra cravo (a flor), em contraponto aos aldeídos, coisinhas sintéticas faiscantes, que brilham como néon no nariz. A textura também é sensacional, amidoada e espessa, como passar os dedos numa tela preparada para pintura. Tenho percebido que os perfumes que se ama de verdade são incríveis quando são aplicados e deslumbrantes algumas horas depois. White Linen é um deles. Prova que a idéia de corpo limpo e lavado da perfumaria americana não precisa ser sem graça. Limpinho, sim, bobinho, não.
Duração incrível e custa uma bagatela — se o dólar ajuda. Por mistérios inexplicáveis só é vendido no exterior. Alô, dona Estée, trás seus perfumes pra cá!
Yves Saint-Laurent Paris
Paris está buscando uma sublimação de duas idéias de rosa: romântica e feminina. É grandioso, envolvente e refinado, embrulha quem usa numa chuva de pétalas. Tem aquele efeito talcado que sempre é associado com chic e caro — para alguns, lembra senhoras. Essa impressão de “em pó” faz pensar em cosméticos caros, maquiagem, penteadeira, coisas de mulher de antigamente, e como se não bastasse de romantismo, um pouco de violeta reforça o lado retrô da coisa. É uma referência de rosa, tá cheio de imitação por aí.
Clinique Aromatics Elixir
Rosa = rosinha? Essa é pra você. Aromatics Elixir é verde escuro e florestal, terra úmida, vento no cabelo. É amargo como um xarope com uma dose gorda de rosa antiga. Sem um pingo de açúcar, sem concessões.
Antigão? Sem dúvida — mas vai tão na contramão do gosto atual, do que se produz atualmente, que ia funcionar muito bem fora do contexto, como uma peça de brechó. Não no sentido hippie do brechó, mas no sentido que um elemento clássico no meio de vários contemporâneos contribui com interessância. É feminino como uma amazona.
A difusão e duração são fantásticas. É potente e um gosto aprendido: eu precisei de várias borrifadas ao longo de um ano para me render. É do tipo de perfume que precisa de tempo de pele para ser apreciado. Se no começo parece um exagero, com o tempo vai se abrindo e ficando mais legível, mais arejado. Se interessa para alguém, Aromatics Elixir é um exemplo excelente de chypre clássico.