Tem uma série de perfumes que todo mundo que curte o assunto precisa conhecer. Gostar ou não gostar quase não importa, é para saber que existem. São emblemas de um estilo, de um jeito de fazer, de uma época — e francamente não se parecem com nada feito hoje. Aromatics Elixir, da Clinique, é um deles.
O perfume vai totalmente na contramão do gosto atual, é cheio de notas amargas e busca qualidades como densidade, força, espessura, riqueza. Nada a ver com alguma coisa feita só para cheirar bem, para dar a impressão de limpeza, frescor ou banho tomado.
Assim como o sabor amargo, em geral a gente não nasce gostando mas aprende a gostar. Na saída está lá o frescor da bergamota abrindo para um emaranhado de patchuli, musgo de carvalho e centenas de outras coisas. Quanto mais usar e mais prestar atenção, mais notas aparecem. O patchuli é mais por um caminho seco/mofinho que os patchulis-chocolate que aparecem hoje em dia, e junto com o musgo fazem um verde bem escuro e profundo. Tudo decorado por uma grande rosa, também no estilo antigo, pode esquecer idéias de transparência e rosas frutadas. Ainda pego semente de coentro, com sua esquina anis, um pouco de ylang ylang, uma flor solar com um ângulo banana, um tico de cravo (a flor), o toque metálico da íris. O conjunto todo é talcado, terroso, florestal, com temperatural baixa. E definitivamente adulto.
Aromatics Elixir é dos perfumes que ganham com o tempo de aplicado, precisa de ar e do calor da pele para mostrar o seu melhor — o perfume desamassa, se desdobra, e se consegue enxergar melhor. Quando for testar pela primeira vez, tenha paciência e acompanhe. É super potente, uma ou duas borrifadas vão bem longe, e com duração gigantesca. Na minha cabeça combina com lugar aberto e dia, mesmo que não possa ser mais distinto de um frescor ligeiro, me dá a idéia de amplo, de arejado.
Aromatics Elixir é um exemplo excelente de chipre clássico, baseado no acorde bergamota + musgo + patchuli + rosa. Chipre é o estilo que acho mais difícil de entender: o perfume que deu o nome não está mais disponível, a intenção não é engarrafar algo que se tenha referência, o que resulta em perfumes bem distintos entre si. Num dos cursos nos perguntamos como isso cabe na linha da Clinique, marca de cosméticos “técnicos”, com apelo anti alergênico, em que se é atendido por um vendedor de jaleco branco numa loja super iluminada. Talvez a ligação seja pela idéia de tratamento, remédio: Aromatics Elixir parece mais uma poção da medicina chinesa, um cozido de ervas e líquens que se toma porquê faz bem, do que algo usado como adorno.
Se a gente for pensar no perfume como é entendido pelas pessoas, entra na categoria de perfume de mulher rica e poderosa, com um pé na tradição (o estilo é clássico) — a outra possibilidade do perfume de mulher rica é o floral talcado, que arrisca ser uma rica mais exibida, “gritando” o dinheiro que tem, se o perfume não for super bem acabado.
Costuma ser difícil de achar nas lojas mas o perfume é vendido no Brasil. Parabéns a Estée Lauder, dona da Clinique, por não ter mexido com essa belezinha. Aromatics Elixir foi criado por Bernard Chant em 1971.