Você já tem uma noção da importância do sândalo na cultura indiana, mas e no nariz, como ele é? O que se chama de madeira em perfumaria e vem da natureza, como o cedro, vetiver e o patchuli, dão a sensação de frio, amargo e seco, que pega na garganta. O sândalo, também uma madeira, vai por outro caminho.
De um lado tem um ponto de calor, quase aquele dia de mormaço, quando a temperatura estimula a pele. O que era seco e amargo ganha textura untuosa, cremosa e um pouco doce, que lembra leite morno — com todas as associações de conforto que ela dá: um mingau quentinho no inverno, de comer de colher, comida de alma para consertar qualquer coração. Perfumes com sândalo são envolventes, dão a sensação de proteger quem usa do mundo. E onde eu posso sentir tudo isso?
Quem pratica yoga talvez tenha visto um roll-on de sândalo dando sopa por ali. Neles dá para perceber um outro aspecto da madeira: assim que aplicado fica evidente um lado borbulhante, cítrico, parecido com pimenta do reino recém moída, nada muito longe do cheiro de óleo essencial de olíbano (incenso) — num curso que dei, uma estudante falou que “parecia Sprite.” E com um pouco de tempo as outras camadas ganham destaque.
Em perfume, os exemplos mais fáceis de perceber o sândalo é em dois Guerlain. O mais evidente é L’Instant pour Homme, em que um efeito anis reforça a impressão quente e protetora. Outro é Samsara, o equivalente a uma carruagem dourada na frente do Palácio de Versalhes, pela quantidade de coisas acontecendo ao mesmo tempo: frisas douradas, rebaixos, entalhes, dobras, volutas. Aplique, aguarde um bom par de horas, e veja o sândalo em toda sua glória.