Essa história é sobre suavidade e conforto, de cheiro de limpo sem cair no cheiro de sabão em pó (Tommy Hilfiger) ou naquele loft branco gelado como vidro (Acqua di Gió).
Na saída tem uma nota um pouco plástica que rapidamente se dissipa, então Noa vai por um caminho mais seco que cremoso, embora algo de leitoso esteja lá e não dê para escapar. A impressão talcada é trabalhada de um jeito contemporâneo, não tem a sensação de perfume antigo. Quem faz o cremoso é uma combinação de sândalo, a madeira esquisita com uma faceta leitosa, um pouco de baunilha lá no fundo e um acorde floral de lírio e lírio do vale. Lírio do vale e o adjetivo cremoso com certeza vão lembrar sabonete branco — se alguém pensar num Dove quando cheirar Noa dá para entender porquê. Outras notas florais dão algo de doce, bem pouco.
Me parece que as maiores qualidades de Noa são dizer limpo sem dizer gelado e não humano; dizer maciez e envolvência sem fazer um perfume pesado como creme amanteigado (Hypnotic Poison). A sensação é de algo seco, leve e com brilho. Se Anais Anais é virginal e inocente, Noa começa a aquecer os tamborins antes de desembocar no vamp LouLou. Faz um excelente perfume para dormir. Foi composto pelo mestre Olivier Cresp (e aqui tem uma entrevista exclusiva com ele).
Imagem: Brancusi, Sleeping Muse