Um dos caminhos para as tarefas difíceis é o humor. Se é para fazer um perfume masculino no meio de dois caminhos batidos e cheios de maus exemplos, como são os aquáticos e os fougères, não é só o humor que vai segurar, vai precisar de uma mão bem boa.
Fougères correm o sério risco de soarem vulgares (comuns, banais) de tanto que foram reproduzidos, estão em todos os produtos masculinos e em grande parte dos lançamentos para esse mercado. Os aquáticos são a família que vão na trilha da molécula calone, que apareceu em overdose nos anos 90. No perfume dá uma impressão de “água”, um amplo, gelado e meio monótono, que você conhece de L’Eau d’Issey (o masculino tem cheiro de melão de geladeira). E o risco é exatamente esse: é tão amplo e frio que fica árido.
No Nautica Voyage a saída é potente com o calone e uma nota verdosa levemente mentolada, um flash herbal e aquático em força total. Água e verde — estamos na praia? Com o tempo a coisa amansa e aí, depois de uma hora aparece a graça, aquela fantasia legal num perfume: um acorde protetor solar, levemente cremoso, naquele registro familiar a todos que passaram as férias com as costas queimadas. É uma lembrança do protetor, aquele fim de dia, voltando da praia com um restinho na pele. Dá um pouco de calor humano e um twist de humor que é sempre bem vindo. Fora isso a impressão toda é bem acabada, sem aresta, raridade nesses dois gêneros tratados a tapa. E o preço não é nada mal, cheira mais caro que muita coisa que custa mais. Se essa linha frescor/aquático é para você, aproveite. Criação do grande perfumista da mão pesada Maurice Roucel.
* Aviso: a amostra deste perfume foi fornecida por assessoria de imprensa.
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