Perfume pink, na minha cabeça, gira em torno de açúcar, de fruta e de flor. Bingo! Mais da metade da prateleira feminina desde Angel (1992) para cá, corresponde a isso. Angel foi o primeiro a descer a mão no etil maltol, molécula encontrada no algodão doce, mais ou menos inventando o gênero gourmand (francês para guloso, comilão). Me lembra a história duma empresa americana de batatas fritas que, fazendo pesquisas, descobriu que o ponto máximo de prazer e de venda, é uma equação que envolve quantidade de gordura, de sal e o barulho que a batata faz ao quebrar. É mais ou menos isso na perfumaria atual, com todas as variações no mercado ao mesmo tempo. Com objetivo científico, escolhi três — e uma delas é muito boa.
Insolence, Guerlain
Rá! Se isso não cheira pink e brilhante vou largar tudo e realizar meu sonho de ser marceneiro. Abre com uma bela dose de violeta, direto do começo do século XX, quando a molécula ionona foi sintetizada, ficou muito barata, e esse foi o cheiro da época. Mas é a única referência ao passado, daqui para a frente é um néon pink escrito POP.
Então ele segue floral, frutal, abstrato e artificial, sem paralelo na natureza, “aroma artificial de” — e nada disso é ruim. Me lembra Trident tutti-frutti, se alguém conseguir comparar lado a lado pode contribuir nos comentários. Não é doce no sentido açúcar do termo mas como aspartame, sabe quando você abre o pacotinho e entra o pó no nariz?
Me parece que é para uma noite de farra, para enfiar o pé no tutti-frutti anunciando para o bairro inteiro as suas intenções. Insolence se espalha por um raio de quatro quadras e entra pelas frestas da janela. É bom ou é ruim? É enorme, pop, barulhento e bagaceira de um jeito legal — use, divirta-se mas não leve a sério, é só insolência.
Pleats Please, Issey Miyake
Um grande floral, com muita fruta e uma grande quantidade de açúcar. Quem segura tudo para não dar cárie no nariz é uma nota entre pêra e maçã, que tem acidez, transparência e alguma semelhança com chá. Ufa. Dá alguma crocância para a combinação que é muito doce, para alívio de todos. Ufa. Não tem novidade, é perfeitamente usável, vai passar, o vidro é bonito, é fruta, é flor, é doce.
Dahlia Noir eau de parfum, Givenchy
A dália negra está contando mentira, na verdade ela é uma rosa muito cor-de-rosa e muito doce e com uma tonelada de musks, que contribuem com um efeito macio e talcado. Entra também um patchuli atacando por terra, que ajuda a fazer um bloco exagerado. Para antecipar o desastre: sim, é pesado, é sufocante, cheira pretensioso e vulgar, daqueles candidatos a dar uma bela dor de cabeça em quem está sentado do lado.
E você, o que acha desse tipo de perfume? É um estilo polêmico, ame-ou-odeie: qual seu favorito, qual você detesta? Por serem grandes e espaçosos podem perturbar um vizinho de cinema ou restaurante — o que fazer? Participe nos comentários.
Pingback: Outros jeitos de usar perfume | 1 nariz | blog sobre perfumes e resenhas()