Resenha: Eau Sauvage, Dior — Além da colônia com um twist de mestre

rene gruau eau sauvage 680

Edmond Roudnitska criou Eau Sauvage em 1966 mas o perfume permanece brutalmente atual — compare com o senhoril Givenchy Gentleman, de 1974, e me diga quem envelheceu melhor. O perfume dá um passo além da colônia: cítrico tem a desvantagem de não permitir uma duração muito grande na pele porque é muito volátil, evapora rápido. A saída foi reforçar as notas de fundo com musgo de carvalho e um truquezinho do mestre.

eau sauvage4O musgo de carvalho vem direto do clássico acorde chypre, que ajuda a coisa a ganhar algum peso e se sustentar por mais tempo. Junto do cítrico aparece um buquê de temperos verdes, com a vantagem de evitar o efeito comestível tipo salada, como no Ô de Lancôme. Manjericão e tomilho contribuem com um grande frescor e uma dose de amargo. Roudnitska contou ainda com a evolução tecnológica: uma molécula sintética de característica floral chamada helional. Ela é usada em Eau Sauvage pela primeira vez completando a estrutura da colônia clássica com um discreto acento.

rene gruau eau sauvage dior 2_600Até aqui tudo certo, colônia com um escuro no fundo já tinha aparecido em Chanel Pour Monsieur (para encerrar a pesquisa no anos 50), mas o jogo tem uma virada quando aparece a marca registrada de Roudnitska. É um aspecto de fruta já depois de madura, que dá um contorno animálico inesperado e surpreendente — o Sauvage da coisa.

O mesmo acorde aparece no curvilíneo Le Parfum de Thérèse, elaborado nos anos 50 e no Diorella (1972), com quem Eau Sauvage guarda um monte de semelhanças. Quem conhecer outros perfumes de Edmond Roudnitska, por favor contribua nos comentários. O resultado é um cítrico complexo, cheio de pontos de interesse, e ao mesmo tempo que é brilhante e radiante tem a sobriedade do chypre no fundo, com um twist animálico. É de grande projeção e perfeitamente adequado a uma mulher. As ilustrações são todas de René Gruau e produzidas para a divulgação do perfume.

Eau Sauvage, Dior

Eau Sauvage, Dior.
R$256,00, 50 ml.

Nas lojas.

  • As ilustrações de René Gruau são incríveis, de uma elegância sexy né? Meu marido jura que o Eau Savage é feminino.
    Agora, seu comentário ‘efeito comestível tipo salada, como no Ô de Lancôme’, foi perfeito! Ô: perfume com cheiro de banho 7 ervas!

    • Rá! Mas estou cá pensando, se a gente suporta o comestível quando é a sobremesa, porque não quando é a salada?

      Se o Eau Sauvage é feminino, o que ele acha do Dior Homme ou do 1 million? O mundo dá muitas voltas! O Gruau: eu queria desenhar como ele…

  • O pessoalzinho diz que depois da reformulação, ele perdeu o sauvage da coisa… Só conheci o novo, gosto e acho bacanudo, sexy, super versátil… enfim… Mas me pergunto se havia algo mais lá, ou é só intriga dos haters.

    • É, tbm só conheço o atual. Pela velocidade que reformulam vai ser cada vez mais frequente. sempre fico curioso e com raiva do tipo “perdi o melhor da festa”. Mas acho que tem que julgar pelo que está aí — e procurar a pepita no meio dos novos e estocar, antes que reformulem.

      • (e dar aquela pesquisada pelos antigos no mercadolivre. vai que, né?)

  • Shendel

    Sim, o Eau Sauvage é perfeitamente usável para mulheres. Aliás, sempre achei essa coisa de classificar os perfumes quanto ao gênero meio idiota… até eu experimentar o Antaeus… a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “nossa, que perfume de macho”! Esse nem eu arrisco!”

    Mas enfim, eu usei um pouco do Eau Sauvage há 2 anos, era gostoso, mas acho que era a versão reformulada, pois tenho lembranças desse perfume do começo da década de 90, quando não era apenas gostoso, mas delicioso!

    • haha, o Anteaus tem cheiro de clube ingles, poltrona de couro, um charuto ao longe… mas sexy numa mulher, não?

      Shendel, fico doido pra encontrar alguem que esqueceu uma garrafa no fundo do armario, sem usar…

  • Pingback: Quem está mudando seu perfume? | 1 nariz | blog sobre perfumes, resenha de perfume()

  • Raimundo Nonato

    Permita-me discordar da resenha no que concerne ao “envelhecimento melhor” do Sauvage. Não acho que tenha envelhecido melhor que o Gentleman. A verdade é que são fragrâncias de gêneros distintos. Sinceramente, acho que tem muito hype em cima do Sauvage. Mas engana-se quem acha que ele é um cítrico refrescante. As notas de saída, bem cítricas e deliciosas se esvaem rapidamente e após isso entra o musgo e um acorde amadeirado que não tem nada de jovial. 90% do pessoal, vai achar datado. Então, fica o alerta para os amantes dos perfumes atuais! Cuidado, esse perfume é de 66! Meu frasco é do final dos anos 90, início dos anos 2000, então não sei se já reformularam e abrandaram ainda mais a fragrância. De qualquer forma, não indicaria, para quem tem menos de 30 anos, que comprasse no escuro. Na mesma toada do Sauvage, há o descontinuado YSL pour homme, que foi relançado numa linha especial com frascos padronizados junto com o M7 (que iniciou essa febre por Oud). Acho que antes do Sauvage, mandaria a pessoa experimentar primeiro o Eau de Rochas (que é dos nos 90). Se ela gostasse, aí então indicaria o Sauvage.