Você que já notou que perfumes que você usava já não são mais os mesmos. Um dos motivos são as regras cada vez mais restritivas que o IFRA, órgão regulador formado pela própria indústria, coloca sobre os fabricantes. Os produtores são obrigados a substituir matérias primas por outras tidas como seguras. Esse é o link definitivo para entender as restrições de uso de matérias primas naturais e sintéticas que estão mudando o mercado de perfumaria.
Enquanto alguns motivos são do âmbito da preservação natural — a extração do sândalo na Índia, por exemplo –, outras são ligadas a saúde. Componentes de matérias primas usadas há séculos podem causar irritações de pele numa parcela da população, coisas como fotossensibilização ou dermatite de contato. Perguntas: porque não identificar o componente assim o alérgico pode evitá-lo, como já faz quem não digere glúten? Ou, mais simplesmente ainda: porque não borrifar o perfume na roupa? Uma resposta possível: burocrata não pensa.
O caso do musgo de carvalho (oakmoss) é emblemático porque é o ingrediente central de dois acordes clássicos da perfumaria, o chypre e o fougère, que correspondem a uma parcela enorme dos perfumes já feitos. Ele é o ingrediente que dá o fundo herbal, amargo e escuro, em perfumes como Mitsouko, Brut, Paco Rabanne, Eau Sauvage, Pour Monsieur, Eau d’Orange Verte.
Cheire extrato de musgo de carvalho e você nunca mais vai esquecer: um cheiro profundo, áspero, escuro, que evoca uma floresta primordial. Por mais de um século este líquido espesso, marrom esverdeado — que tem o nome do líquen denso do qual deriva, Evernia pronastri, que cresce em carvalhos — serviu como ingrediente chave nos perfumes mais populares e lucrativos do mundo. Mas há dois anos [2009] órgãos da indústria começaram a restringir radicalmente o uso de musgo de carvalho, deixando fabricantes de perfume se virando para substituir essa fragrância idiossincrática.
Este artigo é de 2011, eu ainda não tinha visto matéria tão clara e em profundidade sobre o assunto. Está neste link, em inglês.
Foto: Todd Tankersley
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