Minha teoria para couro em perfume é a seguinte: existem tantas variações quantas as do couro na vida real. Essa lista é a dos couros durões, mais bota, aquele que daria medo — ou um sustinho, vai — de encontrar na rua mal iluminada. Mais amargos, secos, escuros, as vezes eles pegam na garganta. Tendo a achar um estilo versátil: por ser mais seco, não vai dar a impressão de grudento se o clima é mais quente.
Só nessa amostra pequena tem uma panorâmica da mudança do gosto do consumidor: três deles foram criados para mulheres, num tempo que os femininos eram chipres com notas amargas bem evidentes. Todos são adultos e vão botar as pessoas pra pensar quando sentirem, porque não parecem com nada feito hoje.
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Na imagem: Orson Welles em “A Touch of Evil”
Grès Cabochard
Herbal, verde e gostosamente amargo, acho que é o que mais funciona para quem quer entrar no assunto. Esse é dos que vale a pena procurar um antigo: a versão que está no mercado é aguada e não dura tanto. Criado por Bernard Chant, de Aromatics Elixir e Aramis (que sem dúvida podia estar nessa lista.) A minha versão é o eau de toilette antigo, que vem neste frasco. Aparece constantemente no Mercado Livre.
Estée Lauder Azuree
Azuree é a prova que não tem motivo para lamentar os vintages perdidos, os perfumes antigos que foram desfigurados: ele está aqui, em ótima forma e custa super barato. Cítrico na saída, depois embarca numa escuridão linda, bem amarga, quase cheiro de torrado.
Faz parte da linha “antiga” da marca, o que quer dizer que ele não é mais tão promovido, não está em todas as lojas ou fica escondido embaixo do balcão. Parabéns a Estée Lauder por continuar fabricando e mantendo a qualidade, mas porque não vendem no Brasil?
Knize Ten
O que tica todos os quesitos. Pode parecer bruto no início, mas é só uma mão firme, porém gentil. Cheio de potência fougère na saída, entra num acorde petrolado, parece óleo diesel, com um acento cravo (a flor) para amaciar. Tem um ponto na evolução que me lembra Bubaloo muito mascado, aquela maçaroca de petróleo com um resto de fruta lá longe. O final é só delícia, um âmbar na medida certa, envolvente, confortável, lembrando de longe caramelo, só com um ponto de calor, não mais.
Desta lista é o que mais volto, dos poucos frascos que vai acabar, se por grande desgraça tivesse que escolher um, e só um, era ele. Para quem quer pagar de insider, é ele que você deve comprar: só vende no exterior, ninguém conhece, é difícil de achar — mas custa barato para o que é. Outros para entrar nessa lista: Robert Piguet Bandit, Hermès Bel Ami, Aramis.
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