Resenha: Le Parfum de Thérèse, Frédéric Malle

Edmond e Thérèse Roudnitska.

Edmond e Thérèse Roudnitska.

Alguns perfumes se elogia de modo mais ou menos técnico, talvez você até marque um dez na sua prancheta mental e a vida continua. Por mais que se consiga admirar não existe emoção. Outros provocam um gemido e um sorriso instantâneos tamanha a beleza, depois é preciso sentar, pedir uma água, um café e, talvez, acender um cigarro para voltar a vida real. Le Parfum de Thérèse faz parte do último caso. Frédéric Malle fundou sua Editions de Parfums em 2000 para funcionar como uma editora de livros. O perfumista deixa de ser ghost-writer das casas de fragrância para ter nome no frasco e foto na loja, não existe agenda de lançamentos, não há limite de tempo de desenvolvimento ou custo: cada perfume tem o preço ditado pelo valor das matérias primas.

A jornada do Parfum de Thérèse começa 50 anos antes, quando Edmond Roudnitska cria Prune para sua mulher, que várias casas recusam pelo vanguardismo de sua proposta. Prune é apresentado na Dior e também não tem sucesso. Como avaliação, uma funcionária testa o perfume por alguns dias: era a mãe de Frédéric. Buscando parceiros para a primeira série de fragrâncias, Malle procura Thérèse, a viúva de Roudnitska, para produzir o perfume, dessa vez com o nome dela.

Um tratamento possível para frutas em perfumaria é explorar o lado bonito, cheiroso, limpo, bem lavado, bem apresentado e pronto para a foto, como a maçã no Light Blue (Dolce & Gabanna) ou o melão de geladeira do L’Eau D’Issey masculino (Issey Miyake). Le Parfum de Thérèse tem aspectos ameixa e melão, mas é preciso lembrar que esse é um perfume sobre amantes. Ao invés de usar frutas de comercial, meio de plástico, Roudnitska faz ambos exageradamente maduros, usando a decadência para mostrar que fruta é carne e corpo, aspectos amplificados por uma nota animal, de couro. Há ainda um pouco de rosa, mas essa opulência floral-frutal nunca chega a sufocar. Ao contrário, é totalmente legível, equilibrada pelo aquoso do melão e tratada com a limpidez característica de Roudnitska nesses anos criativos, como em Eau Fraiche (1953) e Diorissimo (1956, ambos Dior). Belíssima difusão e tenacidade. É sensual e emocional, sem dúvida um dos favoritos do blog. Bravo.

Le Parfum de Therèse

Le Parfum de Thérèse, Frédéric Malle.
$185,00 dólares

Nas lojas Frédéric Malle no exterior ou no site.

Há uma apresentação menor, três frascos de 10 ml como esses, por $125,00 dólares. fredericmalle.com

  • henri345que

    Creio que você iria se apaixonar pelo Femme Rochas, também do Roudnitska, um perfume que ele criou, se eu não me engano, durante a Segunda Guerra, com a escassez de matéria-prima ocasionada por ela e que se mostra um belo chypre, balanceado entre o áustero e o sensual. Aliás, esse é uma caracterísitca dos trabalhos que eu conheci dele, é um perfumista incrível. Me lembre que eu te consigo amostra dos que eu tiver.

    • Henrique, tenho muito que conhecer ainda mas hoje ele é meu perfumista favorito. vou te lembrar dessas amostras sim, pode deixar! sobre o moustache: não foi criado pelo Edmond? que outros perfumes ela criou?

      • henri345que

        Foi criado pelos dois Dênis, o perfume é atribuído ao casal.Imagino que existam outros perfumes dela, mas não há informações disponíveis na internet, infelizmente…

        • pois é, esse mundo é ruim de referências confiáveis. tenho um livro que confio aqui, vou dar uma revirada nele e reporto das trincheiras.

  • henri345que

    Esqueci de uma curiosidade: a Therese, esposa do Roudnitska, era também perfumista, mas atuava mais no aspecto administrativo da profissão. Há, entretanto, um perfume comercial atribuído a ela dentro da grife Rochas, com o curioso nome de Moustache. É uma criação inusitada para mim, devido ao efeito efervescente de sua saída (aquela sensação que o nariz capta quando sente uma pastilha eferescente derretendo na água) seguido por uma base herbal bem seca. É uma pena que não haja mais perfumes com o nome dela, pois esse demonstra que ela também era talentosa que nem seu marido.

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  • Mauricio

    Como todos os perfumes sob o nome Frederic Malle, apresenta ótima sillage e duração.
    Este é especial.

    • pegou super bem para a vendedora da loja dizer que usava esse, Mauricio. Elogiou naquele jeito francês: ça me fait plaisir! é maravilhoso, adoraria usar hoje mas não está aqui comigo.

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