Nos últimos meses estou me dei conta que a graça de perfume, o que me fascina tanto no assunto, é a fantasia, a chance da cabeça se perder num devaneio.
Esse é o perfume que me veste de camisa branca, conserta a corcunda de computador e faz andar alinhado. Guerlain Vetiver começa gelado e cortante, inoxidável, uma explosão de noz moscada que pode assustar. Se você lembrar do seu dentista, faz sentido: o consultório dele tem cheiro de óleo de cravo, um bactericida natural, que divide uns compostos com a noz moscada.
Toda essa explosão faz o grosso da noz moscada passar rápido. Em algum tempo fica evidente a estrela aqui: o vetiver. É uma raiz cujo cheiro não trai suas origens. Óleo essencial de vetiver é um perfume em si: super complexo, terroso e escuro, úmido, com algo de verde profundo. Alguns tipos ainda tem uma camada enfumaçada, como se tivessem sido defumados.
O que se destaca em Guerlain Vetiver é um lado verde e terroso, arredondado com folhas de tabaco. Não chega a dar impressão de cachimbo ou coisa parecida, só entrega um pouco de maciez para arredondar esse monte de pontas do vetiver.
Num dos cursos que dei os estudantes acharam um canto, uma esquina desse acúmulo de verdes, que lembra capim limão, especialmente no início. Eu concordo. A impressão geral do perfume é luminosa e alinhada, com um tom verde. Guerlain Vetiver tem boa fixação e ótima projeção.
Vale um detalhe histórico: o perfume foi criado em 1959 mas registra como contemporâneo, não tem uma grama de poeira em cima do ombro. E essa viagem da camisa branca? Guerlain Vetiver é sem excesso, bem acabado, com a mesma elegância atemporal que uma camisa branca.