O sândalo é a árvore mística da Índia, que acompanha os indianos na vida e na morte. Usada em portas entalhadas na entrada de templos, onde perfuma o ar naturalmente. Queimada como incenso, usada como talco em cerimônias religiosas e de casamento, em sabonetes. E, num costume já antigo, na cremação de corpos, numa cerimônia que terminava com as cinzas jogadas no rio Ganges.
Apesar de ser cultivada na Índia há quatro mil anos, o óleo essencial de sândalo só foi usado na perfumaria ocidental no século XX. Esta espécie é o Santalum album ou sândalo Misore, em referência ao estado indiano onde é encontrada.
Converse com as pessoas e não é difícil encontrar alguém que tenha ido para aqueles lados e voltado com uma caixinha, um leque ou colar de sândalo, ricamente aromático. Um amigo diplomata, cumprindo seu período em Delhi, chefiava o setor cultural. No final de uma apresentação, em sinal de deferência, foi presenteado com uma guirlanda de fitas de sândalo.
A árvore é de crescimento lento: pelo menos 8 anos para que se possa extrair o óleo essencial da madeira e raízes. Essa dificuldade na reposição mais o consumo importante na própria Índia fez a árvore cada vez mais rara, ao ponto do governo indiano controlar severamente seu uso.
Esta é uma das poucas fronteiras em que a perfumaria esbarra com problemas de sustentabilidade — uma outra, já contornada, é o uso de matérias primas de origem animal. Hoje em dia o óleo essencial de sândalo Misore é reservado para as versões mais luxuosas dos perfumes ocidentais, como os extratos e parfums. Para o restante existem matérias primas sintéticas e existe o cultivo de outras espécies da árvore na Austrália.
E no nariz? Num próximo post falo um pouco sobre o perfil olfativo do sândalo, o que o distingue das outras madeiras usadas na perfumaria e em quais perfumes a gente pode sentir seu cheiro.
Na imagem: capa de álbum entalhado em sândalo, final do séc. XIV. Mais detalhes no link. Foto de marc6mauno via Flickr CC