Resenha: Jour d’Hermès — Defeitinhos interessantes

Foto de Ryan Mcginley para a divulgação do perfume. Clique para ver em tela inteira.

Foto de Ryan Mcginley para a divulgação do perfume. Clique para ver em tela inteira.

Jour é o último lançamento da linha comercial de perfumes da Hermès e chegou ao mercado no início deste ano. É um floral delicado e luminoso como sol de inverno, que esquenta mas não faz suar. O perfume tem um acento cítrico que lembra magnólia, que apareceu pelas mãos de Jean-Claude Ellena, perfumista exclusivo da casa, em Un Jardin sur le Toit, de 2011. Mas lá a história é verde, solar e cheia de energia, aqui a vibração é um tom mais baixo.

Se florais como Acqua di Giò são cristalinos, lisos, vitrificados e impecáveis, como alguém bonito mas também um pouco chato por usar a roupa certa e o cabelo certo e o cachorro certo, Jour d’Hermès tem uma sujeirinha que acrescenta interesse. Atrás do floral está um quase rugoso como a textura de uma folha de papel, um rouco na voz que faz com que o que seja dito seja um pouquinho menos importante porque soa tão bem, aquele defeito que quem é mais esperto sabe capitalizar. Ao invés de uma colagem flor + textura, o rugoso parece próprio da flor depois do seu auge, a caminho da decadência. Se os ingredientes ditos animálicos lembram o corpo e por isso são sexy, falar do corpo da flor também é.

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Essa textura dá um ponto de interesse e um calor de pele — ao invés do floral de decote, vamp e gigantesco, este é um sexy quase para si e a projeção acompanha, é mais próxima do corpo. Quem procura um floral grandioso não vai curtir. Meu palpite é que quem gosta de Light Blue pode se encontrar: assim como o arrasa-quarteirão de Dolce & Gabanna, tem um frescor cítrico na frente e uma textura, um calor no fundo

Funciona bem como antídoto de inverno, quando não se quer contra atacar com opulência de calorias e camadas mas uma força para sair de casa vai ser fundamental. Lindas imagens de Ryan Mcginley para divulgação ilustram o post.

  • Ane Elize

    Ola denis!!! é a primeira vez que escrevo mas acompanho o seu blog, é realmente muito bom, parabens! coincidentemente eu comprei o jour ontem, foi paixao à primeira vista. nao sou nenhuma experta, mas gosto muito de perfumes e este é meu terceiro hermès (sou apaixonada pelo cheiro de bolsa nova do kelly caleche da laranja verde da colonia!). O jour me aqueceu o coraçao hehehe! mas pesquisando sobre ele no site da frgrantica eu nao achei as notas e para ser sincera eu nao reconheço nenhuma em especial!! voce saberia me dizer? um abraço

    • Ane, eu amo a colonia d’Orange Verte, azedinha de dar dor no dente e aquele amargo no final.

      Sobre as notas: dá para dizer com certeza que tem âmbar e almíscar no fundo, e esse cítrico na frente que faz a “magnólia”, que não sei identificar, talvez grapefruit. no fim das contas a idéia é essa: um bouque de mil flores, se sente o cheiro de todas, de alguma que não se sabe qual é. obrigado por acompanhar.

  • Fiquei super curiosa para testar…
    Beijos, Pá.
    @papalombo
    http://fashionandotherthings.com/

    • Não deve ser difícil de encontrar, Paloma. Depois deixe suas impressões.

  • Shendel

    “O seu cabelo não nega batata” e agora “usar o cachorro certo”… demais!!! 😀

  • Paula Noschese

    Eu gosto muito do Ellena e mesmo quando eu não tenho afinidade prá usar o perfume, reconheço a qualidade.
    Esse eu gostei, mas não amei. Não prá usar. Continui com Un Jardin Sur le Nil, Eau de Pamplemousse Rose e o maravilhoso Bigarade Concetree 🙂

    • vc testou a colônia nova, azulzinha, Eau de Narcisse Bleu? tem um outro rugoso, uma textura no fundo que é demais.

  • Paula

    Não conhecia o blog! Estava fazendo uma pesquisa sobre a fava tonka e acabei chegando ao blog…
    Aproveitando, vou deixar meus comentários sobre o Jour d’Hermès… Porque AMEI!!!!!!!!! Normalmente tenho atração pela família floral com toques amadeirados ou de especiarias. Mas esse não consigo distinguir, só sei que ao mesmo tempo que é solar, ele é também aconchegante! Mais um belo trabalha do Elena para Hermès. Quero também deixar uma dica de leitura para quem aprecia o trabalho desse perfumista. O livro é The Perfect Scent: A Year Inside the Perfume Industry in Paris and New York, autor Chandler Burr. Bárbaro!! 🙂

    • Paula, gosto bastante desse livro, ele foi o motivo dessa história começar. Falei dele por aqui num outro momento. Vc viu que o Ellena lançou um livro de ficção recentemente? eu confesso que fiquei com um pouco de medo de estragar o mistério e preferi nao ler!

      • Paula

        Olá Denis!! Depois vi o seu comentário sobre o livro do Chandler Burr no blog!! Sobre o do Elena, não sabia… Qual o nome?? Eu fiquei curiosa para ler rsrsrsrsrs

        • O de ficção é La Note Verte, ainda nao traduzido para o inglês. ele tbm tem o Journal of a Nose, é muito legal para entrar no processo de criação dele.

          • Paula

            obrigadíssima!! 🙂

  • Pensa numa pessoa doida pra conhecer esse perfume. Pois é, sou eu.

    Tenho curtido muito Hermès. Kelly Calèche EDT e Un Jardin en Méditerranée me cataram de jeito.

    • to vendo vc falar tanto desse Kelly há tempos que preciso testar! procura uma amostra do Equipage que é enfumaçado, talvez vc goste, pena que nao vende por aqui.

  • Cleide Vieira

    Olá Denis. Amei a descrição do perfume, seu texto é muito gratificante e intrigante. Ocorre que há 15 dias eu estava num Dutty free pronta para comprar o Essence d’Orange da Cartier que embora eu goste muito me deixa irritada com aquela tampa de vidro rosqueada e num dia desses quase o perfume vai ao chão e, se não o encontrasse iria para a opção B, o Voyage de Hermes, que considero firme e forte rsrsr. Por mero acaso resolvi experimentar o Jour e me rendi imediatamente e hoje, ao ler seu blog, identifiquei a tal sujeirinha e o quanto ela nos agarra!

    Mais uma vez parabéns pelo texto e conteúdo. Abraço. Cleide

    • Cleide, meu favorito dessa linha da Cartier é o Eau de Cartier. Esses dias estava usando o Déclaration e já no fim, depois de muitas horas, achei ele muito parecido com o Voyage. O Ellena é daqueles perfumistas que vão polindo um acorde ao longo do tempo. obrigado por acompanhar!

  • Cleide Vieira

    Olá Dênis, bom dia. Eu confesso que não tenho essa sensibilidade olfativa para detectar notas, eu apenas me pauto por aquela sensação de agradável ou não. De modo geral nas viagens eu sempre vou a alguma loja de perfumes, dessas que tem testes à disposição dos clientes e experimento algum que eu tenha visto como lançamento, ou que me indicaram. Experimento na pele, vejo se gosto e volto no outro dia para comprar ou então deixo para o free.

    O Voyage Hermes conheci no free aqui de S.Paulo, antes da viagem de ida pois eu procurava algum perfume bom em embalagem pequena de modo que eu pudesse usar nas férias e retornar com ele na maleta de mão e a vendedora me mostrou o Voyage em embalagem de 30 ml. com a proteção de alumínio, ou seja, próprio para quem vai viajar e como eu adoro idéias inteligentes borrifei o perfume no pulso e gostei na hora. Comprei aquela eau cologne e posteriormente passei para eau de parfum e não saiu mais da minha pequena coleção. Num desses experimentos de viagens eu fui comprar o Dior J’Adore por encomenda de uma amiga e tb testei na minha pele, Sabe o que aconteceu? não gostei rsrsr. Assim, não sei se o J’Adore é da mesma família desses Hermes que uso, não consigo identificar, mas simples assim: não gostei.

    Grata pela resposta e vamos nos perfumar porque é a coisa mais deliciosa do mundo estar perto de alguém com um aroma interessante, porém, na medida certa, não é? Um abraço. Cleide

    • Cleide, eu implico um pouco com essa embalagem do Voyage, acho meio esquisita de usar. Mas minha mãe, que nao vive mais sem o perfume, assim como vc, me convenceram que é boa mesmo pra viajar: encaixa direitinho na necessaire.

      A gente afunda nas notas e descrições por obsessão, confiando no nariz já está ótimo. se conseguir saber porque gosta ou não gosta, muito melhor, facilita essa vida de prazeres!

  • Cleide Vieira

    Olá Dênis, já vi que sua mãe é bem prática como eu, rsrsr. Gosto dele não só pelo fato de se encaixar bem na necessaire, mas também é um perfume, sob a minha ótica, que cai bem em diversas ocasiões. Não preciso me preocupar se estarei muito cheirosa para um determinado compromisso, com ele sei que ficarei discreta, aliás este é o mote quando a escolha determina um outro queridinho, o Eau De Issey, um daqueles antiguinhos discretos que está sempre presente no armário de perfumes.

    No que respeita à embalagem, de fato é meio esquisita, assim como aquele que falamos outro dia o Essence D’Orange. Adoro a fragrância, mas a tampa do frasco se solta com facilidade. Algumas coisas na vida nunca poderiam ser mudadas, deveriam ser proibidas por lei. Há algum tempo fui a um hotel, recém reformado, e o arquiteto(a) resolveu colocar na pia e na banheira torneiras totalmente lisas, sem aquela alavanca. Resultado, quando se tentava abrir a bendita, com a mão molhada, simplesmente a coisa não funcionava, era sempre necessário pegar uma toalha para a tarefa. Torneira tem que ser chanfrada! o chanfrado nas torneiras antigas não aconteceu por acaso.

    Sobre sua obsessão por notas e descrições, sinta-se um privilegiado por ter um nariz tão sensível!! Abraço. Cleide

    • hahahaha, já tive essa experiência com hotel! era tão escuro e os botoes de luz em lugares improváveis, terminei a semana com as canelas roxas! é uma vontade de ser moderno que acaba destruindo a função e utilidade.

      Cleide, o nariz sensível na verdade é treino e atenção. tem que ir cheirando e pondo palavra pra descrever que a coisa se amplia enormemente. Tem que se dedicar um pouco.

  • Pingback: Jean-Claude Ellena em São Paulo: Um livro, Épice Marine e outras histórias | 1 nariz | blog sobre perfumes e resenhas()

  • Karla

    Oi, Dênis, quanto mais leio seus posts, mais apaixonada fico pelo mundo da perfumaria. Você experimentou o Jour d’Hermés Absolu? O que achou? Abraços e mais sucesso. Karla

    • Oba! Que legal que consigo raptar mais umas pessoas pra esse universo, Karla.

      Não testei o Absolu. Preciso fazer um giro nas lojas urgentemente, estou sendo engolido pelos preparativos de cursos.