Qual o cheiro de Veneza?

Toda cidade tem seu cheiro como cada pessoa tem seu cheiro. Mais ou menos pelos mesmo motivos. A feira se repete no mesmo tédio com que se vai a ela, a bituca que não dá pra apagar na fresta do concreto, um vento úmido arrastando perfumes.

São Paulo hoje nesse quase verão tem cheiro mineral, salgado e oleoso de chuva no asfalto quente. Insalubre, gosto aprendido, bonito de um jeito Blade Runner — pra quem tem olhos de ver.

As férias desse ano começaram por Veneza, que eu tinha sonho antigo de conhecer. Esperava o pior e não se confirmou. É impossível e surreal como construir uma cidade de tijolos dentro d’água, precisamente o que Veneza é. A umidade faz o ambiente ideal pra perfumes. Os canais traziam coisas apodrecidas na água, as mulheres comemorando, perfumadas, arrumadas para a cidade. A minha Veneza ficou com cheiro de água parada e rosa.

A segunda parada foi em Florença, que é espremida no seu centro. Os prédios com pé direito imenso em cada andar mais as ruas estreitas deixam tudo escuro, o ar parece que não circula. A cidade tem cheiro do couro das lojas de bolsas e do escapamento dos carros.

Paris foi a parte 3. O outono de luz cristalina ajuda o olho, faz a arquitetura saltar. A baixa umidade não ajuda o nariz, que fica com a paisagem achatada. E de repente, andando: só se pode sentir pão assando e fermento — antes que se veja a padaria, no ar empurrado com força pela exaustão.