Diptyque Philosykos

É engraçado que alguns elementos viram temas, standards, e mesmo que não se tornem batidos mas só quase, são repetidos e tratados de formas diferentes ao longo do tempo. Diz que o nome Everything But The Girl veio porque o grupo tocava jazz em bares e aceitava pedidos de “qualquer coisa menos a Garota” — e não precisa explicar qual. No extremo o sucesso morde o próprio rabo. Já quis fazer um roteirão do figo, de 1994 a 2010 contei oito lançamentos, só para ficar nos maiores. Do verde ao maduro e gourmand. Mas o feito é inimigo do perfeito. Quando os planetas e os perfumes se alinharem, volto no assunto.

Foto: Theory of Sherry E. (CC)

O primeiro que tenho conhecimento é Premier Figuier de Olivia Giacobetti para o L’Artisan Parfumeur, de 1994. Tão a cara da marca fazer a fotografia da natureza, um jeito quase hippie, registrando a árvore toda. E dois anos mais tarde ela cria Philosykos para a Diptyque. Olivia Giacobetti tem a mão boa para tudo ficar envolvente de um jeito carinhoso, abraçável, limpo e interessante, mesmo quando o assunto é incenso (Passage d’Enfer) ou couro (Dzing!), que são potencialmente mais espinhosas. E vale a pena ler esta entrevista, em que essa suavidade aparece até nas respostas.

A escolha foi por fazer a árvore e a fruta antes de madurar. A saída é uma explosão verde clara, brilhante, com elementos mais escuros, amargos, de gálbano, dando a impressão de talo. E a figueira é reconhecível desde o começo, com seu cheiro verde e seco, a mesma sensação da pele da fruta antes de madurar, como camurça segurando um pouco os dedos que deslizam por cima. Aqui é tudo em alta potência, uma grande figueira. Mas não dura muito, e na medida em que o verde reduz cresce algo leitoso, macio, que lembra coco (sem ficar tropical!), como a seiva leitosa das folhas. Dá uma sensação envolvente num tom confortável, com almíscar, com um ponto a mais de temperatura, em oposição ao verdor limpo e fresco, do figo. Daqui pra frente é esse jogo de sensações opostas, com ótima projeção e duração.

Dito isso, estou desde o começo do texto pensando porquê é um dos perfumes que menos uso. Lembrei da última vez que apliquei: estava calor e bem úmido, rapidinho quis lavar esse cremoso de mim. Me deu a sensação de pele pegajosa, ainda mais do que já estava. Implicâncias pessoais. Por oposição, deve vestir legal no outono, quando a secura do clima pede um contra-ataque.

Acontece que o figo foi parar nas lojas, nas casas. Uma amiga falou que não consegue usar mais por conta disso. Se alguém perguntar minha opinião, vou dizer que não faz muito sentido uma marca vender vela ou aromatizador de ambiente na mesma fragrância de um perfume que desenvolveu. Certeza que os produtos para casa custam menos e vão matar o perfume. Isso não vai impedir ele de parar em alguma loja ou casa conhecida, pelo menos não estimula. E será que o perfume que se quer para o corpo é o mesmo que se quer para um ambiente?