Como contei no post sobre a Osmothèque, conhecer o Caron Tabac Blond na versão original me atiçou para achar um tabaco na mesma linha: sedoso, macio, redondo, menos potência e mais elegância. Pesquisando um pouco cheguei no nome Tobacco Oud, do Tom Ford. Antes de mais nada, o cara sabe cristalizar em produto o que o público quer. O couro e um balneário italianos (Tuscan Leather, Portofino), a matéria prima da vez (Oud), a exclusividade (a linha chama-se Private Blends), embalados numa estética Las Vegas/Roma, pelo menos nas lojas — brilho! luz! ego! mais! Testei Tobacco Oud rapidinho e o amigo (e provável parente distante) Hélio Rocha mandou uma amostra generosa em seguida. Ao perfume: é como estar sentado do lado de uma lareira no inverno, tomando um conhaque bem envelhecido, com sua caixa de charutos do lado.
É uma mistura rica, envolvente e complexa do incenso até o sândalo, passando pelo âmbar, deslizando sobre tabaco. Tabaco em si cheira a mel, caramelo, as vezes tem um lado frutado/azedo (acho que da fermentação da folha), e é “liso” no nariz, sem a rugosidade das madeiras. No perfume está lá um efeito madeira queimando que é tão fumaça quando azedo (dá para pensar num azedo de framboesa), sobre esse lado mel do tabaco bastante marcado, com um pouco do resinoso e caramelo de âmbar. Para nossa alegria o conjunto inteiro tende mais para o seco, o que deixa tudo mais fácil de usar que um ambar gordurento.
É um perfume que vai mudando devagar, sem viradas dramáticas, do meio para o fim aparece algo que lembra ameixa seca, como conhaque antigo, e bem no fim um macio/cremoso de sândalo. Tudo tem espessura suficiente para proteger do frio sem ficar sufocante, ótimo rastro e duração enorme. Como não gostar?
Dito isso: não tem nada a ver com o Tabac Blond, que era mais claro, sem fumaça, menos denso, mais redondo; enfim, essa busca impossível. É lindo? É. Vale o preço de 210 obamas por 50 ml? Olhando com o meu bolso, não vale, tem uma lista enorme de outras coisas que quero mais que isso. E o oud? Não pego nada. Nada de nada. Oud é amargo, medicinal, potente, escuro, animálico. Algo me diz que se entrou, foi para não ser oud. E aí precisava ir no rótulo? Para dar o que o povo quer, precisava, sim.
Foto: folha de tabaco por Llima