O perfume floral pode partir para um sketch, uma impressão da flor, que pode existir ou não, como digamos Tommy Girl, que é muito bonito mas é um samba de uma nota só. Outro caminho é emparelhar a flor com outras sensações, fazer uma interpretação, estender a história, como a rosa de aço banhada em musk de La Fille de Berlin. Ou ainda reproduzir ela mesma em sua riqueza: a simplicidade de uma flor só com complexidade de informação suficiente para segurar a atenção. Cada um com a sua graça.
É bonita essa Manhã de Tempestade. Melhor que se apegar a notas em separado, microcamadas de evolução, a composição é para construir a gardênia sem adereços. A saída é um holograma perfeito, está lá o aspecto cítrico feito limão e o fundo um pouco leitoso, que lembra côco, como na flor. E no coração tem umidade e frescor como uma maçã crocante, com um picante (e úmido) de gengibre. Fica num equilíbrio bonito entre opulência da flor e a leveza, sem partir para a simplificação ou abstração total. Para quem quer a flor ela mesma, num holograma complexo. Um belíssimo floral para o verão e noites quentes.
Foto: flickr.com/dermoidhome