O prazer da água de colônia: da clássica a moderna

E na maratona de fim e começo de ano até eu perdi. Saiu no dia 9/1 um texto meu para o UOL sobre colônias, esse estilo que vem totalmente a calhar nos dias de verão tropical. Já acabou com a sua? O texto tem um pouco da história, alguns estilos diferentes em várias faixas de preço para ajudar a encontrar uma nova. Tem 4711, Acqua di Parma, Mugler Cologne, Roger et Gallet…

para o UOL

A água de colônia é dos prazeres mais simples e deliciosos que a perfumaria pode dar. Um cítrico como bergamota, flores como rosa, jasmim e flor de laranjeira e algum toque herbal. Pronto, essa é a estrutura clássica. Uma bela dose de colônia, borrifada com spray, ou melhor ainda, usada de um frasco “splash”, que se pode jogar nas mãos e espalhar pelo peito, pescoço, braços e têmporas, tem o efeito de ritual relaxante, dando um ponto final nas tensões do dia que passou. Se feito pela manhã, dá a energia para enfrentar a perspectiva de um dia de trabalho. Tem algo em usar a colônia em grandes quantidades, sem muita restrição, que tem sabor de indulgência e luxo supremo — e a um preço acessível.

E o Nike 4711?

E o Nike 4711?

A rigor a palavra colônia pode se referir a duas coisas: a esta estrutura tradicional que já falamos, ao redor do floral e frescor, ou a uma fragrância na concentração colônia, ou seja, com até 2% de perfume puro, que também é chamada “body splash”. Às vezes se parte da estrutura clássica para produzir uma fragrância com concentração maior, como a eau de toilette ou deo colônia, com 10 a 14% de perfume puro, mas sem perder o efeito refrescante.

A água de colônia não dura muito e essa não é a intenção, serve como momento de bem-estar e antídoto para os dias mais sufocantes do verão, refrescando a pele e o olfato. Tem gente que guarda a colônia na geladeira para uma dose extra de prazer – por que não? Independente do enquadramento de venda, elas são adequadas para homens e mulheres, a questão é testar o que está disponível para encontrar seu estilo, seja ele mais clássico ou moderno.

A origem da água de colônia é contada por histórias, pouco restou de documentação que possa confirmar os fatos. Conta-se que Giovanni Paolo Feminis, italiano de Milão, inventa em 1695 a receita de uma acqua mirabilis, uma combinação de notas cítricas. O caminho que a receita faz até a cidade alemã de Colônia, que batizou todas as colônias do mundo, é incerto, mas é lá que o negócio cresce e prospera. O neto de Giovanni, Jean-Marie Farina, herda a empresa em 1788, e depois a vende para Roger e Gallet, que você conhece das farmácias. Hoje a colônia tradicional da marca leva o nome de Jean-Marie Farina La Extra Vieille, em homenagem ao herdeiro. É uma colônia nos moldes clássicos com o acréscimo de noz moscada, que confere um ângulo picante e cheio de personalidade. Jean-Marie Farina se instala em Paris e em 1808 se torna fornecedor de Napolão Bonaparte. O imperador consumia quantidades folclóricas de colônia, em torno de um litro por dia e a história conta que até dava uns goles antes de cada batalha.

A Eau de Cologne 4711 é a única que dispõe do frasco splash para tamanhos maiores. A marca foi fundada em 1792 e talvez esse seja o melhor exemplo de uma colônia no estilo clássico, restrita ao ingredientes tradicionais: cítricos, flor de laranjeira, lavanda, ervas e só. Para uma outra impressão no mesmo estilo você pode testar também Ô de Lancôme, com o acréscimo de manjericão, que contribui para refrescar com seu aspecto levemente mentolado, ou ainda Acqua di Parma Colonia, uma variação mais sóbria, menos floral.

E como acontece com qualquer forma clássica, seja na arquitetura, no design ou na perfumaria, elas servem de base para a evolução do gênero, que às vezes busca “solucionar problemas” ou desenvolver o formato, procurando outros horizontes. Os óleos cítricos que compõe as fragrâncias evaporam rapidamente da pele, resultando numa duração pequena. Um caminho para prolongar a sensação de bem estar da colônia é acrescentando matérias primas que evaporam mais lentamente, ou seja, tem duração maior. Alguns exemplos: madeiras como vetiver ou cedro, almíscar (musk) e, num passado não muito distante, o musgo de carvalho (oakmoss), hoje de uso muito restrito por ser um potencial sensibilizador da pele.

Pirações de Thierry Mugler

Pirações de Thierry Mugler

Nessa idéia de explorar o clássico resultando num efeito tradicional, você encontra Dior Eau Sauvage, menos floral que as colônias de outros tempos e, graças ao acréscimo de matérias primas como vetiver e âmbar, tem efeito rico, com mais camadas que a colônia 4711, por exemplo. Esse acréscimo de ingredientes tambpem contribui para aumentar a performance da fragrância, fazendo com que ela dure mais. Hermès Eau d’Orange Verte oferece o máximo do cítrico, de encher a boca d’água, e um aspecto verde e floral que lembra erva-cidreira. Ambos levavam musgo de carvalho em sua fórmula, um componente que dá um fundo escuro e levemente amargo, muito distinto, mas nas formulações recentes já não se pode usar o ingrediente na mesma quantidade. Apesar de serem novos em relação a criação do produto — têm 47 e 34 anos, respectivamente — são criações de referência para quem busca os prazeres da colônia.

Um outro caminho para essa pesquisa é partir da estrutura clássica e buscar um resultado contemporâneo. O melhor exemplo vem de Thierry Mugler, conhecido por seus perfumes corajosamente originais, como Angel e Womanity — o primeiro praticamente inventou a categoria dos perfumes gourmand, marcados pela doçura, o segundo combina a fragrância de um figo muito maduro com um toque salgado. É daí que vem Mugler Cologne. A estrutura floral + cítrico é enriquecida de almíscar, uma matéria prima de efeito macio e fofo como uma toalha felpuda. Aqui, além do conforto desta maciez, lembra o cheiro de lavanderias, com suas secadoras industriais e ferros de passar cuspindo jatos de vapor. Para uma versão mais contida do mesmo efeito, experimente Acqua di Parma Colonia Assoluta. É uma mistura do conjunto cítrico e floral semelhante ao da Eau de Cologne 4711, e quando você começa a pensar que não tem nada de novo ali, o conforto do almíscar se destaca, num tratamento elegante e refinado que na Mugler Cologne, juntando a tradição com o futuro. Na galeria acima você confere ainda mais opções em todas as faixas de preço.

  • Que texto delicioso! Adoro quando misturam-se as referências históricas da coisa toda… Parabéns!

    • eee, tem mais um no forno, publicando eu jogo aqui! obrigado

  • Conhecimento, poder and sedução no mesmo texto! Show!

  • Danielle

    OI Dênis!
    Deliciosa sua descrição sobre as colõnias, sobretudo quando fala do prazer/exuberância relacionados a seu uso abundante!
    Procurei no site e não achei se você já escreveu sobre, mas tenho curiosidade de ler um texto seu falando sobre a interação perfume/protetor solar (vi só sobre hidratante), quem aplicar primeiro, qual tipo escolher, perfumes que se comportam melhor com algo mais pesado na pele (pq mesmo os mais “leves” ainda dão esse quê não é?).
    Obrigada pelas delícias que escreve!
    Ah, você conhece algum curso online relacionado a perfumaria?
    Um “xêro” nordestino “pra tu”!

    • Danielle, muito legal sua sugestão a respeito do protetor solar, ele tem um cheiro que não tem como escapar, até onde conheço não existe um sem cheiro. olha, curso online acho difícil, eu não conheço. obrigado pelos elogios em um xêro pra tu!

      • Danielle

        Aguardo o post! Pois é, mesmo com os protetores supostamente sem aroma noto alterações… 🙁

  • Caroline Barros

    Perfeito o texto e as indicações das colônias, adoro todas!!! Nessa época de calor extremo aqui é essencial ter uma dessas! Rs
    O brasileiro precisa de dicas assim, nao possui educaçao olfativa e não sabe selecionar as fragrâncias ideias pra sair no verão sem afetar os narizes alheios. Rs
    Parabéns!!! Muito útil!

    • Obrigado, Caroline! é um gênero favorito, depois de um dia cheirando perfume parece que ajuda a limpar o nariz, sabe como é?

  • Heitor Robinson da Silva

    devia falar da água de colonia Regina