Duas criações do mestre Maurice Roucel. Missoni é uma mistura maluca de melancia com chocolate que, por incrível que pareça, funciona. A história é toda sobre movimento e cor, como é a parte mais visível da marca italiana com seus zigzags (vou parar aqui porque não é meu assunto e estou com medo de errar).
A melancia é de um jeito bem pop, aroma artificial de, não muito diferente daquele chiclete japonês sabor melão, que vem com quatro bolinhas dentro de uma caixa quadrada. O chocolate vai num caminho mais amargo, não pegajoso nem cremoso, e mantém o perfume com uma leveza geral. O mais legal é que o cheiro da melancia é extremamente volátil, parece flutuar sobre o do chocolate, de forma que você sente sua cor vermelha e ela imediatamente some, revelando o marrom, o que traduz perfeitamente o zigzag das cores. E me fez passar uma tarde cheirando o braço, dizendo mentalmente — De novo! Op art de cheirar, pop, totalmente usável e grande farra.
Missoni Acqua
Na frente parece Gucci Envy, também criado por Maurice quase dez anos antes, mas nada de auto plágio porque faz a coisa evoluir. Abre com um lírio do vale agudo, úmido, cítrico, metálico, aquele brilho estourado na foto. Abaixo disso está o tom grave e naturalmente esquisito da immortelle. A immortelle ou everlasting flower cheira nada como uma flor pois é levemente salgada, tem uma faceta tostada/caramelada e as vezes parece curry. De novo o jogo de cor, de novo o leve e o pesado, de novo sensacional. Infelizmente os dois perfumes não são mais fabricados.
E uma nota de rodapé: é demais quando o perfume está colado na imagem que a marca principal cultiva. Ou cultivava, a julgar pelas propagandas atuais. É completamente possível imaginar umas meninas italianas usando estes perfumes. Mimadas, ricas, falsamente desmioladas e um pouco más, que passaram o dia na praia em algum balneário, saindo a noite para rir alto e julgar pessoas.