É uma gardênia a americana: limpa, polida, escovada, penteada, arrumada, editada no bonito. Toda flor branca traz no perfume sua corrupção, as notas animálicas lembrando que a flor é órgão sexual. As vezes caindo para o cremoso, leitoso como côco, como é o caso da gardênia, o cheiro de estábulo do jasmim, ou indo parar no obsceno da tuberosa, a angélica, com cheiros de queijo, de borracha.
O perfume abre bastante cítrico e aquoso, um chá com limão, de um jeito que achei mais agudo do que o confortável — e ao longo do tempo a coisa vai se organizando para ficar mais parecida com o perfume real da gardênia. Lembra o cheiro de maçã fuji, mais azeda, que também lembra o perfume da magnólia, que tem esse limãozinho na frente bem marcado. Tudo com bastante transparência e radiância. Ali pela metade da história surge um tom um pouco metálico que lembra a tuberosa, mas, de novo, é de um jeito editado no bonito e na leveza. É num espírito bem arrumado e bem comportado, que cabe de manhã num escritório e a noite para sair, numa impressão floral limpa.
Un Matin d’Orage (Annick Goutal), que falei faz algum tempo, é mais parecido com o perfume real da flor: tem um acorde gengibre que pinica o nariz, tem ataque, que dá aquela impressão intoxicante que é sexy nas flores brancas. E o cremoso e almiscarado também está lá. Prefiro Un Matin d’Orage por essa complexidade mas Marc Jacobs Woman é bem bonito, mesmo que ficando do lado mais seguro da história.
Esse foi o primeiro perfume lançado pelo estilista, antes de entrar na linha com frascos coloridos que está nas lojas. E ao que parece foi descontinuado ou parou de ser importado para o Brasil.
Foto: Luz Adriana Villa via Flickr