Nem sei se poderia falar, provavelmente seria melhor ficar quieto, mas estava meio enjoado do estilo do Jean Claude-Ellena. Ele se orgulha de usar uma paleta pequena de matérias primas, tem seu ingredientes favoritos: cardamomo, cominho, grapefruit, as madeiras sintéticas usadas com mãos de fada, sem nenhuma ponta escapando. Pautado por uma idéia de transparência, são perfumes que se acomodam na pele ao invés de se agarrar a ela, cheios de elegância.
Se por um lado demonstra consistência e um estilo próprio, mais que bem vindos em qualquer área de criação, as vezes o estilo de quem usa muda e a coisa já não bate mais — problema meu, não dele. Até que vieram Jour d’Hermès e, agora, Cuir d’Ange, o último pela linha Hermessences. O perfume fica na esquina do couro com o floral talcado, na mistura que talvez seja a melhor maneira de dizer “chic” olfativamente. O couro pela associação óbvia com objetos bem acabados e caros, da carteira aos bancos do carro. E na minha experiência, quando mulheres dizem que buscam “um perfume de mulher rica”, isso se traduz num perfume talcado. Homens, não temam: o efeito talcado é o que faz Dior Homme ser a delícia que é. Provavelmente a origem da associação talcado/chic é com a íris, matéria prima das mais caras da perfumaria, que é extraída do bulbo de onde nasce a flor. A planta deve ser criada por três anos, então os bulbos são secos por mais três, para que a parte odorante se desenvolva, e só por aí dá para ter uma idéia do custo.
Cuir d’Ange é um couro sutil e delicado, sem ir para extremos escuros que lembram o animal de onde a peça partiu. O couro é mais marcado na saída do perfume, ao longo do tempo a impressão talcada e difusa cresce, com um leve acento floral. É bem “sem sexo”, talvez emprestando a idéia do nome do perfume. Tudo bem desenhado e equilibrado, é de um chic fácil de portar, sem exigir humores especiais de quem usa. Senti falta de um pouco mais de duração apesar de várias borrifadas.