A primeira vez que usei fiz cara de interrogação, é tão esquisito que só consegui estranhar. Contrariando minha regra pessoal de só comprar o que gosto muito e vou usar, levei. Rush parou de ser vendido no Brasil e deixou órfãos, é tão idolatrado e até aquele momento a informação que tinha era que não se produzia mais, não ia ser difícil de vender. Fui usando para ver qual era. É um perfume que é barulhento em geral, por eco acabou virando o que mais uso para ir numa festa (barulhenta) na casa de alguém.
Gucci Rush é a alegria do sintético: não tem nada aqui que faça referência a natureza e tudo o que faz é usado para causar a impressão errada. Rush é a gíria para o barato, em geral se referindo a droga (aquele pico de energia quando se come um chocolate é o sugar rush) — se quiser investigar do quê é esse barato, a propaganda abaixo pode te ajudar. Foi desenvolvido sob direção criativa de Tom Ford, em 1999. Conta a lenda que ele escolheu o protótipo logo de cara, sem testar modelos de outros perfumistas.
Estou aqui reescrevendo mil vezes sem saber por onde começar a falar do perfume em si, porque cada referência vai ter que ser tão recortada para chegar só um pouco mais perto que a versão curta é: Gucci Rush cheira a plástico novo, nada muito diferente da fita cassete em que ele vem embalado.
A saída é meio histérica, parece cheiro de produto que “aconteceu” e agora temos que lidar com ele, tipo spray de cabelo. É tudo num caminho de coisas deformadas: um pêssego brilhante como néon, jasmim de plástico, tudo indo para o salgado/mineral e nada para o doce (alguém comentou que tem cheiro de sais de banho). É um conjunto meio grande, se espalha, se sente de longe. Junto disso vem um patchouli moderno, limpo, nada como o patchouli úmido dos anos 70, que dá algo terroso e uma secura geral nessa “primeira metade”. O que me pegou mesmo foi o final, que arredonda a história. É leitoso, macio, sedativo, um descanso, e na primeira vez que reparei levei um susto: — Que cheiro bom é esse? Não está na lista de notas mas eu apostaria que também tem almíscar ali.
Um perfume que não parece com nada, cheio de força e fico aqui pensando como uma coisa estranha dessa caiu no gosto e vendeu. Não tinha a versão masculina na loja mas não tem nada que seja exclusivamente feminino nessa história. Órfãos, dá para comprar online em loja no exterior. Criado por Michel Almairac, de Chloé, Gucci Pour Homme, Bottega Veneta, entre outros.