Eau des Merveilles, Hermès – Borbulhante (e a sensação de montanha russa)

A saída de Eau des Merveilles faz pelo nariz o que a água com gás faz pelo paladar. Interessa pela leveza, pela textura e uma sensação salgada que parece fora de lugar mas é bem vinda. Sem cair em delírios conceituais do perfume de uma molécula só (Escentric Molecules), dos acordes máquina de xerox e oxigênio (Odeur 53), nesse começo Eau des Merveilles é quase um não perfume.

A força está na a abstração, em não usar a natureza como referência: fora algo cítrico que não lembra fruta, é difícil apontar uma nota ali no meio. Por outro lado também não parece sintético ou alienígena, é algo com que se pode relacionar. A saída é hilariante como um copo de refrigerante gelado, com o gás fazendo cócega no nariz. Essa textura frizante e um pouco salgada é o ponto alto, e um viva por não fazer referência ao mar, sem impressão de iodo, ervas, etc. Parece que vai virar uma madeira pesada mas mantém transparência e leveza o tempo todo. E durante o uso a coisa vai mudando.

De tempos em tempos aparece um efeito floral delicado, um pouco doce, puxando para a violeta, que entra e sai de foco, até o momento que se instala. A sensação de aparecer e sumir é interessante mas falta interessância nessa história que entra. Usando me dá aquela sensação de montanha russa: depois da queda grandona o resto vira um tédio só porque é menos legal. Queria editar, separar a primeira metade da segunda e ficar com a primeira.

De qualquer forma não é uma violeta clássica que faz a coisa ficar antiga ou feminina demais. Faz um bom perfume de verão ou para quem quer alguma coisa discreta todo dia. Eu espirraria na roupa para segurar aquele começo por mais tempo.

eau des merveilles2

Eau des Merveilles, Hermès.
R$269, 30 ml.

Nas lojas.

  • Diana Alcantara

    Senti as borbulhas fazendo graça no nariz ao ler sua resenha…