Ah, o grande mistério da perfumaria. Cuir de Lancôme faz parte de La Collection, série de sete fragrâncias entre relançamentos e novidades criada para ser distribuída de maneira mais seletiva. Ao que parece alguém mudou de idéia no meio do caminho, os perfumes mal chegaram as lojas e já pararam de ser fabricados. A boa notícia é que Cuir está disponível no nosso querido Mercado Livre por R$200, o que é um valor sensacional para o perfume que é. Ele foi lançado em 2007 e foi composto por Calice Becker.
Este é um couro floral mais para o lado macio da história, com uma piscada para os perfumes antigos. Tem o cítrico da bergamota na saída, que manda aquele alô para o Shalimar (1925), clássico âmbar/baunilha da Guerlain, e um buquê floral (tem ylang-ylang ali) com acento na violeta, que parece bastante com mítico couro/violeta Lanvin Scandal (1931).
Ao invés de emparelhar o couro com a densidade e o calor do âmbar, como é comum, Cuir tem algo de balsâmico, resinoso, apenas levemente doce, mas também transparência — ele não cola na pele mas se acomoda suavemente. É um couro bem trabalhado, flexível, macio como camurça, com um toque de caramelo e polvilhado de violetas. Tem um clima outonal, marrom dourado, e é de um chic sob controle, o que o faz bastante versátil em relação a temperatura e situação de uso (Chanel Cuir de Russie é tão chic que requer uma certa disciplina física.) E faz um bom masculino no caminho macio, floral, do Fahrenheit.
Quem gosta do couro animálico e mais durão, qualquer coisa entre chicote e bota, ou mais perto do estábulo, não é por aqui. Hermès Bel Ami, Robert Piguet Bandit, Knize Ten, Estée Lauder Azurée e Aramis são opções melhores. Se você prefere o couro macio como uma luva bem feita, corria comprar. Uma das grandes descobertas do ano com relação preço/qualidade imbatível, que te faz até perdoar a tampa esquisitinha que não encaixa direito.
Foto: LUCIE & SIMON, Hermès