5 coisas que eu gostaria de saber quando me interessei por perfume

Com sorte o a conversa aqui animou e você quer entrar mais no assunto — e tanto faz se é mergulhar de cabeça ou só curtir mais a sua coleção, ou melhor ainda, a vida lá fora. Na verdade não tem certo nem errado, cada um faz seu caminho, mas qualquer coisa começando tem aquela impressão de engatinhar e “será que é isso mesmo?” que, de repente, trocando uma idéia fica mais fácil. Aqui tem algumas coisas que eu teria gostado de saber quando entrei no assunto. Nos links do fim do post alguns amigos escrevem sobre o mesmo tema.

1. “Meu nariz é ruim”

Eu perguntei para uma amiga que é ótima de pescar notas num perfume se ela tinha um nariz mais sensível que as pessoas. Ela disse que não, só que prestava atenção. Achei demais. Se a pessoa normal simplesmente não pensa no assunto, quem parou um instante para prestar atenção nos cheiros que estão por aí já saiu do lugar.

2. Nem tudo são notas

Metade da história sobre o assunto perfumes é fazer imagem sobre o que está sentindo, não precisa declarar a fórmula na primeira cheirada para curtir. Que tal correr por fora? Se você pensar em que cor, temperatura e que textura o perfume tem, já sabe dizer mais do que antes. Vale para qualquer cheiro. Parece com alguma outra coisa? E daí pode estender para outros adjetivos: leve ou pesado, molhado ou seco, transparente, pontudo, exagerado, até onde a obsessão levar. No começo é complicado e parece um pouco besta, devagar você estende o vocabulário, ganha agilidade e começa a fazer associação entre coisas com os mesmo adjetivos. O que leva para o próximo item.

3. Arrumando palavras (e fazendo uma memória)

Se o assunto é cheiro não tem como apontar para o que se está falando e dizer “esse pedaço aqui”, você vai precisar de uma palavra. Sem palavra não se tem uma idéia para pensar, não tem como se referir a nada sem apontar. Para ligar palavras com cheiros só tem um caminho: praticar. Como? Cheirando tudo e tentando por palavras. Um bom começo pode ser a idéia do item anterior. De quebra vai formar uma memória de cheiros e palavras coladas a eles.

4. A primeira idéia

Em geral quando a gente dá a primeira cheirada num perfume uma micro idéia passa bem rápido pelo cérebro. Bem rápido, não deu tempo de entrar em modo Procurando notas, a idéia pisca no cérebro, um frame só, igual mensagem subliminar no cinema. E ela é meio besta, “tem cheiro de banana”, e você descarta porque se sente idiota, o perfume não é frutal, não está na lista de notas. E daí estudando, lendo outras resenhas, você vê que não foi o único, de repente tem um jasmim bem frutal que lembra banana, sim. Com o tempo me dei conta que essa idéia muito rápida, que se tem com o cérebro em ponto morto, em geral é boa e valiosa. Melhor reservar e ver o que acontece. E uma dica prática.

5. Amostras estragam

Sempre que vou testar amostras pela primeira vez faço umas anotações. Resolvi voltar para umas que ficaram 6 meses guardadas e a anotação não batia mais com o nariz, especialmente as notas de saída, do meio para o fim a coisa parecia mais normal. As “amostras de fábrica” parecem melhor vedadas e duram mais, as que se troca com amigos estragam mais rápido, tanto a pequena com um palitinho na tampa quanto o frasco com spray, não tem fita adesiva que resolva. Teste, anote, use, faça o que tiver que fazer o quanto antes. E se guardar para referência saiba que não vai ficar exatamente igual.

Para ter outras visões sobre esse tema, visite os blogs:

Le Monde est Beau | Perfumes Bighouse | Village Beauté | Templo dos Perfumes

Pimenta Vanilla | Vanessíssima | Parfums et Poesie | A Louca dos Perfumes

Foto: marfis75 via Flickr

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  • Excelente Dênis! Nem me fale de amostras estragadas… já excluí muitos perfumes maravilhosos da minha lista por conta delas! Bjo!

    • Ju, por conta disso criei uma tabela no Excel em que entro todas as amostras que tenho, com data de chegada, se cheirei ou não, notas. Solução de uma pessoa obsessiva, não sei se te serve.

      • Verdade, boa idéia!

        • Elisabeth Casagrande

          Que organizado que vc é Dênis! Tenho cadernos com minhas impressões sobre os perfumes que já provei. É muito engraçado ver como nossa postura muda com o tempo, mas gostaria muito de ter feito isto com minhas amostras. Agora “Inês é morta” …

          • haha, eu não sou nada organizado mas aprendi. minha penúltima obsessão (a última é essa tabela) é que não adianta ter se não consegue encontrar. e pensei em como ia ser legal achar todas essas notas sobre o que provou ao longo dos anos. é sempre hora de começar, porque não, Elisabeth?

  • Eu amo esse blog!

  • Elisabeth Casagrande

    Dênis agora sim entendia a sua proposta ( lerda né?), pois sem nenhuma indicação de como conduzir o tema mergulhei em caminho muito diferente.
    Você escreveu um guia de como ” cheirar perfumes”!
    Esta idéia do ponto morto, da primeira impressão que bate no cérebro é muito interessante, principalmente porquê ela as vezes some. Eu creio que o cérebro (este autônomo libertino) decide que se já registrou o fácil pode se preocupar com as outras modulações mais difíceis de interpretar. E deixar de lado a primeira impressão…hehehe
    Mesmo correndo o risco de parecermos ligeiramente malucos é bom andar com alguma coisa para anotar.
    Carrego sempre um bloquinho e caneta na bolsa. Meio antiquado não é ? Mas se Jean-Claude Ellena faz eu imito um dos meus heróis na maior felicidade.
    Belo texto! Beijocas de Elisabeth

    • Elisabeth, também faço parte da ala de malucos de bloquinho na mão, estou tentando substituir pelo celular com algum sucesso.

      Concordo com a sua impressão, as vezes a gente vai com o olho “duro”, procurando o problema para desfiar, e perde essa impressão do “ponto morto”. Não é a mesma coisa mas se relaciona: estava lendo sobre intuição e alguém falava que ela pode ser uma dedução tão rápida que não vemos o percurso, parece que pula uma idéia pronta no cérebro. achei que faz sentido.

      • Laura

        É o inconsciente. O “processador” do inconsciente é muito mais rápido do que o do consciente. Por isso parece intuição, e é bem como descreveste: uma dedução tão rápida que não vemos seu percurso, uma ideia que pula pronta do cérebro – genial.

  • Josefa Duarte

    Pois é. Meu nariz não é estragado rs. Vejo algumas pessoas comentando sobre alguns perfumes e penso com os meus botões: “que viagem”! E agora sei que é isso mesmo. Uma viagem muito pessoal e particular. Amei. Obrigada

    • Josefa, é por aí, cada um com as suas associações, na hora de afiar o nariz é melhor esquecer bloqueios e deixar vir.

  • Diana Alcantara

    Perfeito, Dênis! Esse ‘aprendizado’ sobre cheiros e notas nunca acaba, e sim, as vezes também me sinto besta ao pensar sobre determinados perfumes. Mas não é não, são nossas experiências,sentimentos e conhecimentos que falando. E devemos sim ouvir… cheirou goiabada? Então tá. Pra vc é isso!

    • Diana, é igual receita. associou, bate em neve, reserve. E aí o legal de ter mais gente por perto discutindo, que dá para ver outros caminhos de associações que são possíveis e todo mundo aprende mais.

    • Ubiratan

      Me intrometendo, Diana, perfeito isso que disse. Já que falou em goiabada, tem um perfume que (acho que só eu) sinto cheiro de goiabada nele: Malbec Supremo. Experimente se puder e me diga depois, rs.

  • Dênis, que o outros não me ouçam, mas você é o mais sensato da turma. Rá! Gente, brincadeirinha, viu? Na real, a piorzinha sou eu e ponto final. hahahahahaha

    Falando sério, amei seu post! E seu questionamento também! Coisa de quem sabe o que diz. Só não te chamo de mestre porque mestre é um cara velhinho de barba branquinha que ensina tudo com charadas.

    • Vanessa, eu vou começar a falar tudo em invertida ordem para parecer mais respeitável, ok? Vou lá dar um pulo e ver o que rendeu de prosa por aí.

  • Careimi

    Estou amando esta série de post de todos…me senti na mesa redonda com todas as “coisas” que escreveram.

    • Dâmaris – Blog Village Beauté

      fico feliz que estejas participando da idéia toda de alguma forma, Careimi. <3

    • escrevendo numa mesa que roda, uma espiral!

  • Dâmaris – Blog Village Beauté

    Gosto deste estilo fluido e rápido de pensar que imprimes em tua escrita, Dênis.

  • Cris R.

    Menino de deus, cada vez que venho aqui fico trocentas vezes mais culta…rarara! adorei tudo o que vc disse. Para quem está apenas começando a cheirar tudo feito doida, que nem eu, nada como alguém com otimas dicas pra guiar…maravilha de texto! beijoca

  • Atila Antonio

    Denis estou amando seus posts, uma forma otima e divertida de expressar sentimentos e conhecimentos perfumaticos … 🙂

    • Obrigado, Atila, para o bem e para o mal, a cabeça não para de funcionar 😉

  • Ciça

    Metade da história sobre o assunto perfumes é fazer imagem sobre o que está sentindo, não precisa declarar a fórmula na primeira cheirada para curtir.
    O velho poeta recorre as mais incríveis imagens para definir o que vê, o que cheira, o que ouve, o q sente afinal. Sutilezas.
    E o que eu gosto no seu universo Dênis é esta sua habilidade poética que recorre as mais criativas imagens para definir cheiros, odores, aromas e perfumes.
    …”Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume”… Manoel de Barros

    Bjs querido

  • suave renda

    Adorei a discussão. Adoro a parte de ligar cheiro com palavras, e o mais legal é quando você esta com um amigo para ver que a palavra que ele associa não tem nada a ver com a sua!!

    • haha, é assim mesmo. aí, juntos, vocês vão recortando para chegar mais perto e num acordo. esse é o melhor jeito de aprender.

  • Nat (@golden.white)

    Adorei esse post!!

  • Aniele

    Denis, olá! Lendo seu post e me lembrando de um perfume que me apaixonei há tempos e há muito ele saiu de linha e claro, perdi suas nuances olfativas (uia, funciona mesmo o vocabulário novo…rs) fiz uma pesquisa básica dele, o Amor Amor Delight da Cacharel.
    Eu o usei no meu casamento há 7 anos atrás…
    Bom, eu encontrei uma resenha dele dizendo quais notas, coração e fundo foram usadas.
    Existe a possibilidade de recriar? E se sim, quais as proporções usadas?
    Segue abaixo a resenha encontrada:

    Apresenta notas de grapefruit luminosos, um coração acrescenta sorbet de framboesa e as raspas de abacaxi, juntamente com pétalas de rosa, feminino construídos sobre uma base de âmbar, patchouli e almíscar.

    Sua resposta será muito importante mesmo para mim!

    Um grande abraço e boas festas!

    • Aniele, é possível mas acho difícil achar alguém para fazer. Os perfumistas copiam “de nariz” como treino na escola, só a lista de notas não basta: tem mais um monte de coisa numa fórmula que não é evidente mas contribui para o resultado. Você teria que achar um profissional disponível, pagar pelas horas de trabalho, pelos materiais usados… Sinceramente, acho difícil.

      • Aniele

        Chorando em 3…2….1…buáaaaaa!
        Mas obrigada mesmo assim! 😉