Florais limpíssimos tipo Acqua di Giò até são bonitos mas gelados como um interior desenhado pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid. E tão “sem defeito” que o resultado é meio maníaco, tipo a dona de casa dos anos 50 passando álcool nos pratos, obsessiva por limpeza e perfeição.
O jasmim, depois da exuberância floral, passando do bonito, tem cheiro de esterco, com quem divide algumas moléculas. Mas é a tuberosa, a nossa angélica, é a que mais impressiona. Primeiro pela potência intoxicante: não adianta correr, resistir é inútil. Em seguida faça o mesmo exercício, depois do bonito tem cheiro de camembert, de borracha, plástico, terra molhada, de côco — e é favor lembrar que flor é órgão sexual.
Tubereuse Criminelle começa com um zoom no feio, ensombrecendo um plano para destacar outro. Abre com uma explosão gelada, de cânfora, que vai se transformando num cheiro de derivado de petróleo, algo entre borracha e plástico dos mais vagabundos, próximo da agressividade química da creolina (menos o cheiro de bosta). O nome é preciso. E lentamente a flor vai aparecendo dessa treva, enorme, comedora de gente. Rastro e duração comparáveis a do césio-137.
Me parece que todo mundo que gosta de perfume, se não adota Serge Lutens para a vida, tem pelo menos uma fase de adoração. Não sei se estou amando mas com certeza estou apaixonado.
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