Colônia funciona como reserva de prazer e antídoto para o calor. Nesses últimas semanas de tempo quente e muito seco, meus dias começavam e terminavam esfregando uns montes de 4711 no pescoço, no peito e nos braços, confortando o nariz e a pele com frescor. Não é sempre que se acha — ou se pode pagar — uma garrafa das grandes, sem o spray. Se puder não perca tempo: usar quantidades generosas de colônia, chacoalhando o frasco sobre as mãos para aplicar, tem aquele sabor de prazer mundano e deliciosamente indulgente, que todo mundo merece. Hoje corre mais um capítulo da série Batalha de Colônias.
Colonia Assoluta é muito parecida com a 4711 na abertura: rosa, lavanda, bergamota fazem o acorde clássico e devagarinho a coisa vai mudando de figura. Entra o almíscar (ou musk) de sensação macia e muito confortável, que lembra de longe cheiro de lavanderia. É cheiro de limpo sem cair no cheiro de sabonete, que está bem onde está, e aumenta em algumas horas a duração, o que é sempre legal nesse gênero fugaz. Linda progressão do tradicional ao moderno, deliciosa e fácil de usar. Não é a mais fresca justamente por conta do almíscar, que pode “ensopar” no calor, mas para quem passa a vida no ar condicionado não precisa se preocupar.
Acho mais interessante que a Colonia Acqua di Parma tradicional, que é cítrica e irresistível na saída mas, me parece, falta um pesinho no fundo. Aí, pelo cítrico, partiria para a Eau d’Orange Verte (Hermès), que tem um musgo amargo na base. E eu fico cá me perguntando se essa cama de musks não foi inspirada na colônia futurista Mugler Cologne, de 2001, que leva a idéia de cítrico + lavanderia ao extremo. Segura o time de perfumistas: Jean-Claude Ellena e Bertrand Duchaufour criaram a Colonia Assoluta em 2003.
Já passaram pela Batalha as colônias 4711, Bergamotto Marino, Roger & Gallet e Mugler Cologne.