A linguagem para falar de cheiro é tão precária que o tempo todo se empresta palavra do tato e da visão para enriquecer as descrições. Quando você ler o adjetivo verde para se referir a algum perfume é para dizer cheiro de grama cortada ou folha amassada. Algumas lojas vendem os ingredientes em separado, é um rolê que quero fazer e volto para reportar aqui no site. Mas quando não se tem a matéria prima separada o melhor jeito de identificar é comparando dois perfumes lado a lado e, na sua cabeça, isolar o elemento comum.
É um efeito bem claro no Chanel Cristalle, espirre na fita e compare com o No. 19, também Chanel. Esse verde, um cheiro úmido de folha esmagada ou de caule cortado, é dado pela extração de uma planta chamada gálbano. A imagem que vem na minha cabeça é de um polígono verde brilhante, molhado, com borda definida, quase uma esmeralda de cheiro — mas se imagem que te surge é outra, melhor ficar com a sua, para fixar na memória. Em termos de sensação esse verdor é um jeito de falar em frescor, menos elétrico e mais durável que os cítricos. Um exemplo mais moderno é Dahlia Noir L’Eau, um chypre verde com a textura picante do patchouli. A Scent by Issey Miyake e Baiser Volé também tem uma nota verde bem marcada.
Não confundir (pela cor) esse verde com herbal. Herbal é amargo, seco e canforado, como lavanda, parte fundamental dos fougères, ou como a mirra, comum nas composições com incenso, como Incense Avignon ou La Myrrhe.
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