Jour é o último lançamento da linha comercial de perfumes da Hermès e chegou ao mercado no início deste ano. É um floral delicado e luminoso como sol de inverno, que esquenta mas não faz suar. O perfume tem um acento cítrico que lembra magnólia, que apareceu pelas mãos de Jean-Claude Ellena, perfumista exclusivo da casa, em Un Jardin sur le Toit, de 2011. Mas lá a história é verde, solar e cheia de energia, aqui a vibração é um tom mais baixo.
Se florais como Acqua di Giò são cristalinos, lisos, vitrificados e impecáveis, como alguém bonito mas também um pouco chato por usar a roupa certa e o cabelo certo e o cachorro certo, Jour d’Hermès tem uma sujeirinha que acrescenta interesse. Atrás do floral está um quase rugoso como a textura de uma folha de papel, um rouco na voz que faz com que o que seja dito seja um pouquinho menos importante porque soa tão bem, aquele defeito que quem é mais esperto sabe capitalizar. Ao invés de uma colagem flor + textura, o rugoso parece próprio da flor depois do seu auge, a caminho da decadência. Se os ingredientes ditos animálicos lembram o corpo e por isso são sexy, falar do corpo da flor também é.
Essa textura dá um ponto de interesse e um calor de pele — ao invés do floral de decote, vamp e gigantesco, este é um sexy quase para si e a projeção acompanha, é mais próxima do corpo. Quem procura um floral grandioso não vai curtir. Meu palpite é que quem gosta de Light Blue pode se encontrar: assim como o arrasa-quarteirão de Dolce & Gabanna, tem um frescor cítrico na frente e uma textura, um calor no fundo
Funciona bem como antídoto de inverno, quando não se quer contra atacar com opulência de calorias e camadas mas uma força para sair de casa vai ser fundamental. Lindas imagens de Ryan Mcginley para divulgação ilustram o post.
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