Falando perfumês: Aldeído

Aldeídos são produtos sintéticos isolados desde cerca de 1850, de grande potência e poder de difusão, encontrados nas cascas de frutas cítricas. Eles conheceram a fama em 1921 quando Ernest Beaux criou o N°5 para Chanel, que leva mais de 1% de uma combinação de aldeídos. A quantidade era enorme para a época. Tão grande que um dos mitos que restou é que houve erro de pesagem da fórmula pelo assistente de Beaux — e o modelo foi o preferido de Coco Chanel, para desespero do perfumista.

Falar somente em aldeído se refere ao aldeído C12, que tem cheiro etéreo, metálico, químico, de um brilho que ofusca, extremamente radiante. Em pequena dosagem tem cheiro de roupa recém passada. Na perfumaria funciona como fundo branco que dá brilho e transparência as cores.

Em 1919 a Guerlain lança Mitsouko, um chypre marrom escuro, outonal, com a luz alaranjada do aldeído C14 (ou undecalactone), chamado não por acaso aldeído pêssego. É um pêssego neon, de laboratório. Se a próxima obra pública do Anish Kapoor for um pêssego de alumínio polido com 8 metros de raio, ele vai ter cheiro de aldeído C14.

  • Elisabete Rocha Pagani

    Aldeído Raton Hotel. Em Boca Raton há um.
    Mas os aldeídos podem ter distintos cheiros entao?

    • aldeídos diferentes podem ter cheiros diferentes, a maioria com esse aspecto químico/metálico mas com características secundárias distintas (pêssego, cítrico, ceroso, …).

  • Muito interessante. Os aldeídos são muito importantes para a análise de bebidas destiladas em alambiques de cobre. O excesso ou a ausência deles podem comprometer suas qualidades sensoriais.

    • Mauricio, como que isso funciona? se faz alguma correção quando não está adequado?

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  • henri345que

    Uma coisa reveladora que aprendi ao ler o Segredo do Chanel No 5 é que, na verdade, os aldeídos não são sintéticos, eles são naturais, só que você não consegue extraí-los de forma natural, pois evaporam rapidamente, se transformam antes que seja possível essa extração. Por isso são considerados sintéticos, pois a extração deles só é possível em laboratório, quando você para a reação química que os transforma. E é por isso também que são notas tão frágeis, voláteis e intensas, que dão uma aura tão viva e tão fugaz nos primeiros momentos de um perfume. Ele possuem nuances frutais e florais pois estão presentes nas frutas e nas flores, mas nem todos tem essas nuances. É bem interessante quando você encontra um perfume sem flores mas com aldeídos, pois eles assumem uma aura floral fantasmagórica, abstrata, de uma flor que você não consegue exatamente identificar. Depois que se aprende a entendê-los e desmistifica-se sua imagem de talco e perfume senhoril se mostram bem interessantes ao olfato.

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  • Bruno Bratilieri

    O cheiro atribuído ao aldeído vai depender da quantidade de moléculas de Carbono em sua estrutura química… Quanto mais Carbonos ele tiver, mais agradável será seu cheiro e quanto menos tiver, mas desagradável será.
    O formol, utilizado em conservação de cadáveres e produtos de beleza (Mas proibido pela ANVISA) é um aldeído, porém, possui apenas uma molécula de Carbono, sendo seu cheiro muito desagradável e forte!

  • Talitha Bewlay

    Alguns perfumes aldeídos eu amo, outros ficam “senhora” demais pra mim. Gosto do L’Interdit de 1957, aldeído floral (atalcado e amadeirado) mas atualmente só fabricam em raras edições limitadas e de qualquer forma me apaixonei mais pelo de 2018(que não é aldeído, mas floral oriental)… Esses tempos achei uma recriação do de 57 por uma perfumaria do Rio, linha Ícones.