Parecia que esse ano ia passar batido mas agora ele veio: o inverno começou se você está em São Paulo. Para quem usa perfume para se proteger e abrigar, e tanto faz se é do frio ou dos fantasmas que moram na cabeça, é um prato cheio. Nas minhas “escolhas” (é mais acontecido que escolhido) tem um viés de cravo, que redescobri recentemente na floricultura do supermercado e virou a última obsessão: que perfume mais surreal. (Aliás, me deixe sua dica de perfume com nota cravo, mas tem que ser a flor.) Clicando nos nomes sublinhados você vê resenhas completas de cada um.
Foto: Carnations and striped vase, Robert Mapplethorpe
Yves Saint Laurent Opium (versão atual)
A saída cheira a vela apagada e dá uma ilusão de “tem tanta coisa junta que cheira a limpo” (provavelmente por conta de uma mistura de aldeído e lírio do vale). Mas ali tem mirra levemente amarga, âmbar de um jeito leve, com um belo floreio de cravo (a flor). A sensação é balsâmica sem ser pesada, envolvente, lânguida, preguiçosa. Sugere lugares escuros, movimentos lentos e iluminação por velas. Ao longo do tempo vai abrindo, ficando mais etéreo, mais floral. Tem pouca doçura e o cravo é uma flor austera, de impressão picante, faz um masculino bonito se o oriental é o seu caminho. Me acompanha pra cama com freqüência.
Knize Ten
Esse é o perfume que aperta todos os botões, não importa o quanto e em que ocasião use, e elas tem sido muitas, tem sempre algo inteligente a dizer. É um couro no caminho mais masculino da história, com uma nota petrolada que lembra óleo diesel. E tem o cravo mais bonito que conheci até agora — junto com o efeito petrolado nunca consigo deixar de pensar num Bubaloo muito mascado, aquele plástico com um resto de sabor levemente floral. A secagem é fantástica, vai terminar num âmbar + couro. Serve para se sentir um cara durão ou um cavalheiro (meio sórdido) na Viena dos anos 20, quando o perfume foi criado. Se eu tivesse que ter um couro só, era este. Forte candidato a perfume favorito da vida, favor perguntar daqui 50 anos.
Comme des Garçons Incense Kyoto
Esse foi uma redescoberta. Confesso que esnobava como sendo um perfume muito fácil — que bobagem. Se Incense Avignon vai por um caminho gelado como pinho, Kyoto lembra cipreste: frio, de sensação expectorante e facilitadora da respiração, com uma faceta mineral/metálica que é deliciosa. Sensação um pouco solitária e meditativa, estes sentimentos de inverno.
Bulgari Black
Categoria: tem que conhecer. O único que ficou da lista do ano passado, aquele que espero o período certo para usar, o que não canso de compartilhar o meu amor. Agrada ao paladar (baunilha), ao piromaníaco (fumaça), a veia urbana (tem cheiro de borracha), e às contradições da própria vida urbana: a necessidade de proteção (veste quente), a necessidade de conforto (veste macio). Escuro, complexo, com ótima difusão e dura para sempre. Fala um pouco mais alto do que me deixa confortável mas contorno aplicando longe do nariz.
E você, o que está usando nesse inverno? Deixe o seu comentário.
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