Como nascem os perfumes, da idéia para a prateleira — Parte 1, o briefing

[Esta é a parte 1 – Parte 2]

Muita gente chega no site procurando por cursos de perfumista. Uma possibilidade é que as pessoas querem ser perfumistas, outra é que querem trabalhar com perfumaria. Para esclarecer qual é o caminho que o perfume faz da idéia até a prateleira e quem está envolvido no processo de criação, começa aqui uma série de posts sobre os personagens que fazem a perfumaria acontecer. A gente começa pelo briefing, depois fala do avaliador e do perfumista.

A coisa não é simples, especialmente nesse ponto, tem muita gente envolvida. Você, que tinha imaginado Calvin Klein de guarda-pó branco no laboratório, olhando beckers contra a luz, pode esquecer. Quem opera a divisão de perfumes de uma marca de roupa, por exemplo, é uma empresa que detém a licença de várias outras marcas. A espanhola Puig responde pelas licenças de Comme des Garçons, Nina Ricci, Paco Rabanne e outras. A Puig paga as empresas um percentual das vendas e um valor pelo licenciamento, assim como a produtora de maçãs paga o Maurício de Sousa para usar os personagens que ele criou.

Do outro lado fica a casa de fragrância, que é onde o perfume é fabricado de fato. O perfumista, que num fenômeno recente se tornou ponta mais visível do processo, é funcionário dela. É a casa de fragrância que produz as matérias primas naturais e sintéticas, cria o perfume com sua equipe e é responsável pela fabricação. E são gigantes: cinco empresas — Firmenich, Givaudan, IFF, Takasago e Symrise — são responsáveis pela fabricação de quase todo perfume no mundo, do perfume da fralda até o de por na pele, passando por aromas para Cheetos e Danete.

O contrato entre a marca e quem detém a licença varia muito, então o grau de controle da própria marca também varia. Basta ver que os perfumes Givenchy parecem se reproduzir na calada da noite e tem pouca relação (se é que alguma) com as roupas.

Quem quer lançar um perfume primeiro elabora um briefing, um rascunho, que pode ser em qualquer formato. Um pedido direto dizendo a faixa etária do consumidor e que é um floral com patchouli. Uma história ou uma viagem e dela saem os elementos. Alguma coisa parecida com o mais vendido, que criou uma tendência importante. Circula a história que para apresentar o briefing de Odeur 71, Christian Astuguevieille, diretor criativo da divisão de perfumes da Comme des Garçons, perguntou onde tinha uma máquina de xerox. A máquina funcionava desde a manhã, ele pediu que a cheirassem, deu mais algumas instruções e foi isso. Enfim, o briefing é tudo o que querem que a equipe da casa de fragrância saiba na hora de criar.

Esse briefing é apresentado a algumas casas de fragrância, fazendo uma concorrência entre elas. As vezes o perfumista não participa da apresentação do projeto mas freqüentemente a casa de fragrância leva um como parte da sua estratégia. Caso não tenha participado, quem recebe o briefing é o avaliador, que medita e escolhe a quais perfumistas da casa vai apresentar o novo projeto. Ou seja, o perfumista concorre primeiro com os seus colegas de empresa, e depois da escolha do avaliador, entre colegas de outras casas de fragrância. Dá para imaginar a alegria de ganhar um projeto? Na semana que vem a história continua falando sobre a figura do avaliador.

Quem quer mergulhar nos bastidores da coisa pode ler A Perfect Scent, livro que Chandler Burr que conta sobre a produção de Un Jardin sur Le Nil, da Hermès e do primeiro perfume de Sarah Jessica Parker. Quem preferir a versão 30 ml, tem o artigo da New Yorker que deu origem ao livro, focando só no primeiro perfume, neste link. Infelizmente, só em inglês.

Imagem: absolutos do CB I Hate Perfume. Foto Nathan Branch, link

[Esta é a parte 1 – Parte 2]

 

  • Mas que é legal imaginar Vivienne Westwood de jaleco, pipeta na mão, meio sorriso na cara e sobrancelha esquerda levantada, ah, isso é. rs

    • ahaha, o cabelo dela ficou daquele jeito quando explodiu um coquetel de aldeídos na cara.

      • hahahahahahaha Pode crer!

      • JB

        hahahahahahah Cena hilária de se imaginar!

        Mais um exceçelente post, Denis!

        Aproveitando a deixa, gostaria de te passar um briefing sobre um post. Apesar de achar que “perfume masculino e perfume feminino” é uma besteira inventada pra vender perfume pra norte americano nos anos 50, que perfumes feminos você acha interessante para uso por nós, homens?

        É claro que não vejo mulher alguma usando aquele Azarro tradicional ou homem usando o Flower by Kenzo ou o Dolce & Gabbana feminino, tradicional, mas uma vez provei o Infusion D´Iris da Prada, da minha namorada, por achar o perfume bom demais e, pra minha surpresa, não só o cheiro mudou completamente em mim, não deixando traço algum de feminilidade, como gostei tanto, e ela também, que passei a usar o perfume.

        Quais outros “femininos” você acha interessante pra uso masculino?

        Um abraço.

        • JB, ótima idéia! na Vogue de novembro sai um texto meu falando de perfumes masculinos para mulheres coloquei umas coisas barra pesada tipo Kouros, Cool Water. sou da opinião que se deve usar o que quer — já reparou que nos perfumes que tem duas versões o masculino em geral é pior?

          Uma panorâmica do que eu uso: os clássicos: Diorella, Jicky, Mitsouko, Après L’Ondée. Me divirto com Tommy Girl nos dias de calor, ganhei uma amostra de Bottega Veneta e fiquei surpreso. Daria para por os chypres quase todos, os couros antigos tipo Cabochard, que não bate com a imagem de perfume para mulher que temos hoje. Enfim, adorei a pauta, prometo voltar no assunto.

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  • Pri

    Olá! Essas ainda são as principais casas de fragrâncias? E a Mane? Em q posição está?

    • Pri, a Mane é uma grande empresa mas ainda menor que essas. Não sei precisar exatamente, recomendo uma busca nos sites das empresas para apurar — as maiores tem capital aberto e divulgam dados de faturamento.