Sujo de graxa | Resenha de Boticário Malbec Club Intenso

Lançar um perfume é um negócio tão complicado, com tantas pequenas peças envolvidas — estou evitando a palavra CARO, que é a mais correta — que as marcas querem a maior segurança possível que aquilo vai ter sucesso. E aí o caminho mais certeiro é fazer testes: reunir consumidores, mostrar o novo perfume, perguntar o que acharam, às vezes comparar com o principal concorrente, fazer ajustes, repetir — e aqui encerro o papo de caderno de economia. 

Ok, garante o lado comercial em alguma medida mas criativamente é um tiro no pé, porque o consumidor escolhe o que já conhece. Olivier Cresp, perfumista de Thierry Mugler Angel, foi categórico: “Os testes com consumidores estão matando a criatividade.” Mas também pode evitar um sucesso maior, que é aquele que junta criatividade com o momento certo, que é o que antecipa vontade das pessoas. 

Foi justamente o caso de Angel. Não foi testado em painel de consumidores, demorou para pegar e fez tanto sucesso, mas tanto, que é, sozinho, o responsável por 90% dos perfumes femininos lançados hoje serem muito doces e intensos. Nesta entrevista que fiz com Olivier Cresp ele conta mais desta história. Nenhum perfume foi tão influente desde Angel e ele tem quase 30 anos (é de 1992). Quer outra prova de que vale a pena arriscar? 

Malbec, do Boticário, fez caminho parecido — deixou os testes de lado e virou o arrasa quarteirão da marca desde 2004, quando foi lançado. Malbec Club Intenso é uma interpretação lançada em 2018 e minha versão favorita. O Malbec original trocou um pneu e está sujo de graxa, e digo isso como um grande elogio.

Está lá a marca do clássico, a folha de violeta logo na saída — dá uma impressão verde e macia, quase floral, super refinada. Mas some o acorde frutado e adocicado, este é um Malbec com jaqueta de couro, mais durão. Dá para notar logo nos primeiros minutos que Club Intenso é mais seco e escuro. 

Lá no fundo está um acorde couro muito bem construído, amargo, cheio de musgo. Não é intenso ou oleoso a ponto de complicar a versatilidade, não é nada grudento ou que precise ficar no grupo dos perfumes que só se possa usar no frio. É um belo perfume e o melhor couro nacional.

Foto de Mark Boss no Unsplash.