Fuga e escape – Resenha de Les Eaux de Chanel

Perfume é escape. Fuga, distensão, ampliação, corte da realidade. A gente usa viagem com a mesma função — e é aí que os dois assuntos se juntam. No segundo semestre de 2018 a Chanel lançou três perfumes inspirados em destinos à beira d’água. E nome da coleção é Les Eaux de Chanel e todas as viagens partem de Paris. Paris-Deauville e Paris-Biarritz seguem o caminho do frescor por vias diferentes, Paris-Venise olha para o Oriente.

O que tem mais potência é Paris-Deauville. O caminho é o do frescor e da leveza via bergamota e manjericão, esverdeado e vibrante, um tanto amargo para manter o interesse, com um efeito aquático importante. Aquático, hoje, não precisa ser aquela impressão laboratorial e cansativa, com cheiro de melão, de clara de ovo ou de geladeira, dos aquáticos dos anos 90. É mais uma noção de transparência.

Tem elegância como um chipre clássico, o que quer dizer que funciona no casual (é leve, fresco, não se impõe) e no sofisticado (prende o interesse, tem refinamento). A proposta é de perfumação delicada e não de duração transcendental.

É um tipo de perfume que gosto de ter em viagem: versátil, fácil de usar e interessante. O outro tipo seria com mais volume e peso, cheio de personalidade. Eu viajo para passar frio, então esse segundo perfume também tem que ser quente.

Os três são em concentração eau de toilette, os frascos são lindos e feitos com cuidado. Confortáveis nas mãos, leves para o volume de 125 ml. E com alguma bruxaria que faz o canudo do spray ser quase invisível dentro do líquido.

Paris-Biarritz é um caminho mais corrente com o que está rolando no mercado rotulado para os meninos. A casca de cítrico na saída, a sensação tônica, ligeiramente salgada e super manjada dos masculinos azuis. É bem feito mas nada de novo — o que não quer dizer que não seja gostoso de usar. O final é um ponto favorito meu. Macio, almiscarado e super confortável, ainda ajuda a estender a permanência para mais longe.

Se Biarritz é o mais masculino, Paris-Venise busca inspiração no barroco da cidade, na tradição comercial com o oriente, para ser o mais feminino e quente do trio. A impressão principal é talcada, seca como giz. Talcado desse jeito soa clássico e pode ser datado, mas a proporção controlada e um punhado de frutas vermelhas — controladas também na doçura — trazem tudo para hoje.

Foto belezinha da Vânia Goy.