Existe a categoria de perfumes confortáveis de usar, que envolvem sem dar muito calor — um tricô leve, o moletom muito lavado, aquele pano de pescoço que se usa por causa da sensação na pele. Perfumes que são quase texturas. Aqui tem dois exemplos dessa idéia.
Neroli Portofino (Tom Ford) chega nesse lugar passando pela colônia clássica. Neroli é uma destilação de flor de laranjeira: brilhante, fresca, luminosa, e no perfume ela vem junto duma bergamota azedinha — a minha boca enche de água. Clássico de tudo e muito bem feito.
Em seguida vem o tátil da história: é uma toalha macia, uma cama de musks felpudos, como enfiar o nariz no filhote mais peludo. O lado cítrico não consegue durar muito, é assim mesmo. É com a segunda parte que a gente se relaciona mais — e está bom demais. É uma maciez rente à pele, sem ficar cremoso, sem parecer talco. Tudo bem arejado, com cara de saúde, de limpo, de impecável. Tem uma idéia parecida na Cologne, do Thierry Mugler.
O outro me levou para uma cena. No colegial, emprestei meu moletom inseparável para uma amiga — sabe aquele? Acho que todo mundo teve um. Ela me devolveu um dia depois. E quando fui vestir tinha um resto do CK Be que ela usava.
O moletom que era parte de mim, já gasto de tão lavado, um resto de CK Be, que é quase só musk, a bendita matéria prima que une Neroli Portofino e Glossier You pela maciez. Os três perfumes são bem diferentes que se encontram na textura.
No Glossier You ela tem mais densidade e espessura, é mais floral, leitosa, envolvente — vale pensar num Noa (Cacharel) menos seco, que é por esse caminho. O que deixa a coisa mais dissonante é um cedro sintético bem animado, com cheiro “técnico”, de revista nova, que ajuda na difusão. Ele está mais presente nas primeiras horas do perfume. Depois disso o clima é casual, confortável, familiar: e viva o moletom.