O lugar do perfume na cultura

O perfume mais antigo ainda em fabricação é Jicky, da Guerlain, de 1889, foi criado para a Exposição Universal do mesmo ano em Paris. A mesma exposição que fez construir uma torre provisória pelo engenheiro Eiffel. Aquela, muito bem instalada, que recebe 9 milhões de turistas por ano hoje.

Uma celebrando feitos da engenharia, outro da química: Jicky trazia produtos sintéticos como cumarina e vanilina, duas inovações dessa época excitante, ainda não contaminada com a idéia de sintético = barato que temos hoje. Só para dar mais parâmetro de data e visibilidade: Memórias Póstumas de Brás Cubas é de 1881, um dos Van Gogh do MASP, O Escolar, é de 1888, assim como grande parte da produção mais conhecida do pintor. Jicky também é um produto cultural, da mente de um homem maravilhoso em um tempo maravilhoso, mas quem é que conhece Jicky, que tem a vantagem (em termos de portabilidade) de ser um produto multiplicável?

Tem um lado incrível aqui que passa batido: é o fato de um produto de consumo, que obrigatoriamente é destruído para ser desfrutado (ou seja, inimigo do museu como imaginamos), que depende de vendas, de amor do consumidor, continuar a ser fabricado 126 anos depois de lançado. Com um pouco de paciência e um cartão de crédito internacional — Jicky não é vendido no Brasil — você consegue ter uma experiência mais íntima com Jicky, inalando uma pequena fração da mistura, aplicando o quanto desejar na pele, que a que vai ter com O Escolar, mesmo que esteja sozinho no MASP.

Você pode ter na sua casa, para seu uso, a melhor cópia legalmente permitida, dessa obra simbólica, o mais próximo possível do que foi imaginado pelo criador. Fissurados em fidelidade vão ter que esquentar o cartão de crédito um pouco mais para chegar até a Osmothèque, o conservatório de perfumes em Versalhes, onde Jicky pode ser sentido de acordo com a fórmula original.

Como a gente pode celebrar o perfume como cultura, no lugar que ele merece? Numa série de posts vou falar sobre quem já faz, e como faz, esse trabalho.

 

  • Elisabete Rocha Pagani

    Ótima idéia! Já estou esperando 🙂

  • Rafa

    vai ser ótimo!